Estava confuso
Mais uma vez envolvi-me numa discussão no blogue Ambio, desta vez sobre a caça. O (adivinharam) Henrique Pereira dos Santos começou por dizer que cada vez está mais convencido que o coelho “é a verdadeira prioridade de conservação da fauna em Portugal“. É capaz de ter razão no ponto de vista do próprio coelho que tem direito à existência e no que toca aos predadores que dependem do coelho na Península Ibérica, cerca de 30 segundo li algures. Mas logo na primeira resposta nos comentários, diz que “a caça é favorável à conservação do coelho”. Estando o coelho sob grande pressão de duas doenças víricas fulminantes, a Mixomatose e a Doença Hemorrágica Vírica, custa-me entender como adicionando a pressão cinegética o ajuda a recuperar de alguma forma. Talvez volte a este assunto mais tarde. A discussão avançou e chegamos ao post A Gestão Activa e Não Intervenção. Nos comentários questionei qual era o proprietário ou associação neste país que consegue manter os caçadores fora da sua propriedade. A minha resposta é basicamente nenhum, o Henrique Pereira dos Santos diz “qualquer um”. E é economizador nos exemplos: propriedades da Quercus, mas não esclarece quais (porque a Quercus tem micro-propriedades vedadas com objectivos de conservação botânica muito definidos), as da LPN não tem a certeza e na Faia Brava não se coloca a questão porque a Associação Transumância e Natureza “considera os caçadores como parceiros e aliados do seu projecto”. Questionei em quê são aliados. Não há resposta. Estou confuso.
Pela seguinte razão: quando estive em Castelo Rodrigo, tornei-me sócio da ATN e tive o privilégio de visitar a Faia Brava. É uma terra pobre, rochosa, com muito pouca chuva e recursos naturais escassos. Um dos objectivos de conservação da ATN são as aves rupícolas (aves que nidificam em penhascos), das quais algumas são carnívoras e encontram-se muito ameaçadas (Águia-de-bonelli por exemplo). A associação investiu recursos a recuperar pombais tradicionais que tem de manter diariamente e em colheitas para alimentação. Como imaginam, os pombais não se destinam à conservação de pombas, mas sim a fornecer alimento às aves rupícolas.
Parece-me óbvio que se nesta fase é necessária a intervenção do Homem para atrair e alimentar as aves, a Faia Brava não é naturalmente auto-suficiente em presas e o ecossistema da reserva é ainda muitíssimo frágil. Fazendo os caçadores aquilo que fazem, que misterioso valor acrescentado trazem ao projecto? Informei-me: nenhum, pelo contrário.
A associação só está à espera que acabe a actual concessão de caça para terminar com essa actividade dentro da propriedade (não estou optimista que o consiga, mas a ver vamos). Depois, no máximo, dependendo da evolução, talvez seja permitida a caça ao javali. “Aliados” é até uma palavra demasiado forte. Por palavras minhas diria que na melhor das hipóteses há um pacto de não agressão, mas é bom lembrar que no presente ainda se caça na Faia Brava, portanto uma das partes tem o que quer e a outra o que pode. Não quero mostrar-me demasiado pessimista. Admiro muito este projecto e vou segui-lo com muita atenção.
Realmente estava confuso e era caso para isso. E não havia necessidade.
Na fotografia pode-se ver um dos pombais da Faia Brava.
Uma resposta para“Estava confuso”
Bom dia!
É sempre muito polémico sermos contra a caça! Eu sou! Mas em terras pequeninas em número e em mentalidade pior ainda.
Tenho pequenas parcelas numa área total de cerca de 8000 m quad. mas agora pergunto: o que posso eu fazer para que não cacem nos meus terrenos? respondo: NADA!
Na maior parte tenho árvores de fruto, onde frequentemente andam rolas, coelhos, entre outros… posso gostar de os lá ver! tenho direito de não me importar que me devorem a horta! Parece que não!
Além disso, muitas das vezes não levam só a terra agarrada aos pés… se é que me faço entender…
Além disso interferem claramente no habitat natural dos lugares… tenho uma avó com quase 90 anos… e perguntei-lhe: avó no seu tempo também caçavam javalis e veados? Havia por aqui não? Resposta: “Não, filha, isso são esses malandros que não têm um palmo de terra amanhada que botam isso para nos darem cabo tudo!”. E esquilos? Haveria por aqui? não creio, que os velhotes andavam assustados com uns ratos estranhos em suas casas…Pois parece que tornaram a largá-los também por estas bandas… assim como cobras ao que parece…
Não sei se o fazem legalmente, mas acredito que sim… Mas não posso concordar… se não havia aqui essas espécies porque tem autorização para largá-las? Não se tornarão uma praga, uma vez que não há predadores?
Concordo sim, no trabalho de preservação das espécies… nos alimentadores artificiais, não me importo com espécies que são daqui! Agora vindas sei lá de onde, só porque srs. feudais gostam das batidas? Gostam, mas de preferência os outros que os criem!
Fico muito revoltada com tudo isto!
Desculpe o alargado comentário, foi um desabafo! Esteja à vontade para não publicá-lo!
Até ao seu próximo post,
Catarina Costa
Cara Catarina Costa, a minha tese é que não se consegue manter os caçadores fora das propriedades, a lei da não-caça que eu saiba não é eficaz. Sim, são conhecidos esses relatos de “abastecimento” nas hortas e pomares.
Quanto aos animais, o facto de não existirem no tempo da sua avó não quer dizer que não sejam autóctones. Durante o século XX muitos foram perseguidos até à extinção no nosso território. Agora há relatos de repovoações vindas de Espanha — o Lince de forma controlada, a Águia-imperial, Cabra-montesa no Gerês… Dizem-me que o esquilo vermelho é de cá, se bem que no Sargaçal tenho esquilos que me parecem pretos.
Não existem predadores porque também foram e continuam a ser extirpados da terra.
Obrigado pelo comentário.
Caro José Rui Fernandes,
Estou desintoxicado de HPS há algum tempo agora. De vez em quando tenho uma recaída, esqueço-me e vou ao blog Ambio, e … corre mal.
Prefiro ignorar. Não é que não tenha conhecimentos e razões, simplesmente desperta o pior em mim, apenas se vê a personagem em vez dos seus argumentos. Prefiro evitar.
[…] toda a pertinência para a temática do blogue Ambio. Eu interpreto-a como um aviso à navegação a propósito deste meu texto, do qual mantenho tudo o que escrevi. É uma declaração de interesses que não aquece nem […]