Muito longe de independente ou brilhante
O Henrique Pereira dos Santos escreveu um post no Ambio sobre captação de sócios para uma associação ambiental, no caso a Associação Transumância e Natureza, onde é colaborador e da qual sou sócio. Entretanto, queria ter tecido algum comentário, mas nem tive tempo… já está outro post praticamente a responder ao primeiro, com o exemplo Árvores de Portugal. Em vez de comentar no Ambio, comento aqui, esperando que o “trackback” funcione (se não, vou lá colocar um comentário a avisar que há uma resposta). É uma das ferramentas mais interessantes dos blogues e mais subaproveitada pela “blogo” portuguesa. Bem utilizada gera boas discussões entre blogues. Mas, sobre as associações, depois do salto…
Para mim um sócio é alguém mais interessado que os outros no(s) assunto(s) que presidem os interesses da associação. Esse interesse é suficiente para gastar algum do seu dinheiro, pagando uma quota. Conseguir mobilizar alguém para se tornar associado já é um feito, mantê-lo como associado (pagar quotas) é uma tarefa virtualmente impossível. Por essa razão não cobramos quotas na Associação Árvores de Portugal. É uma tarefa que rapidamente consome mais recursos do que os que gera até a associação atingir uma dimensão que permita ter a tal estrutura mínima profissionalizada que o HPS propõe e com a qual concordo.
Mas não concordo que seja um objectivo possível. Não é para a esmagadora maioria das associação e quem envereda por esse caminho rapidamente passa a existir para pagar a estrutura, tornando-se esta o grande objectivo estratégico da associação e a sua razão de existir. As contas são muito fáceis (contas redondas): a associação gasta 800,00€ com um salário de secretariado (bruto), isso mobiliza os recursos de 560 sócios que paguem uma quota anual de 20,00€. Na minha opinião pura e simplesmente não é aceitável. Se juntarmos o resto do staff preconizado pelo HPS, precisamos de uns 2.000 sócios só para isso. Se calhar é necessário um local para trabalhar, mais 200 sócios, talvez uma viatura… quer dizer, antes de se chegar aos 2.500 sócios não se faz nada pelos objectivos e com o sócio 2.501, temos 20,00€ por ano para as actividades.
Não me parece. Quando me tornei sócio da ATN há menos de um ano, era uma associação com bem menos de 200 sócios passada a sua primeira década de existência (hoje 204 ou pouco mais). As pessoas não se tornam sócias para pagar empregos de secretariado. No caso das associações ambientais, tem de pelo menos existir a ilusão de conservação. No caso, que uma percentagem significativa do meu dinheiro vá para a Faia Brava. Para mim, significativa é 90% (ver este texto que escrevi em 2005). Ou seja, para a associação idealizada pelo HPS, com a qual concordo teoricamente, são necessários 25.000 sócios a pagar todos os anos. Nem considero muito, mas na prática nacional é imenso. Tanto, que se torna praticamente impossível.
Na Associação Árvores de Portugal, que ainda não teve tempo para muito mais que se colocar a si própria de pé (que alguém pagou) e um site de pé (que alguém pagou), decidimos que não teremos tempo nem recursos para cobrar quotas. Imaginamos uma gestão por projecto que em boa verdade nem necessitaria de sócios. Bastava que algo funcionasse como o site Kickstarter, que é uma plataforma de financiamento. Apresenta-se o projecto, os potenciais interessados avaliam-no e decidem se o financiam ou não. O problema vai ser constatar (outra vez) que não será fácil, por muito interessantes que sejam os projectos.
Eleger os sócios como a principal preocupação de gestão não é viável antes de atingida a tal dimensão mínima, nem é realista. O país está a parecer-me demasiado pequeno para a grandiosidade das associações com que sonha o Henrique. Eu também gostava de sonhar à proporção com uma Royal Horticultural Society, com um Woodland Trust ou um Sierra Club.
Depois, entramos mais uma vez nos múltiplos do HPS… a matemática é uma ciência exacta e fascinante, mas utilizada pelo Henrique é simplesmente optimista. Desde que duplique ou triplique, quer seja uma população de Francelhos, quer sejam sócios, está tudo bem. Uma associação que tenha 100 sócios e que os duplique ao fim de dois anos, está a léguas de ser independentemente sustentável. Passados oito anos a esse ritmo insustentável só terá 1.600 sócios (considerando que os primeiros 200 ainda estão a pagar), seria bom mas muito longe de independente ou brilhante.
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