Os DVD de permacultura
“Permaculture Design” diz na capa que é uma introdução ao curso de 72 horas e de facto sabe a pouco.
“Establishing a Food Forest” é prático, é interessante, mas vai contra muitos dos meus preconceitos que talvez sejam conhecimentos. Por exemplo, qualquer livro ou revista de horticultura desaconselha deixar os resultados das podas espalhados por todo o lado, designadamente perto das árvores de fruto, para evitar que doenças e pestes se alojem, hibernem e isso tudo. Aqui é o contrário. Para adiantar o processo de decadência natural, cortam-se arbustos e árvores (rolam-se mesmo) e vai tudo para cobertura do solo. O solo é uma bandalheira indescritível de matéria orgânica em decomposição. E no meio disso, é suposto haver fruta. E não digo que não exista, mas digo que é capaz de não ser exactamente o meu estilo. Se é que tenho um estilo.
“Harvesting Water the Permaculture Way” foi o que gostei mais. Geoff Lawton vai com alunos à propriedade de um antigo aluno fazer uma represa para recolher água da chuva. Discutem-se uma série de considerações sobre o local, que água se pretende recolher e como a recolher. A técnica de construção da represa, a marcação topográfica (poucos detalhes na utilização do material de agrimensor), a escavação… tudo muito interessante. No fim, parece que houve pressa em acabar e não temos direito a ver a água a fluir pelos canais a encher o buraco. Umas fotografias do local passadas seis semanas e é tudo.
Não posso dizer que não tenha gostado, costumo gostar deste tipo de documentários. Geoff Lawton é um personagem curioso, mais que sabe do assunto, acredita que realmente assim é que deve ser e isso é importante. Mas, gostava mais que alguém mos tivesse emprestado… não são DVD que mereçam vir quase dos antípodas até aqui. Lamento muito, mas não são.
Uma resposta para“Os DVD de permacultura”
Desculpe-me a ignorancia mas acho que não entendi muito bem o que é permacultura. Fiquei com a ideia que eram trocas de algo, andei a tentar ver aqui mas era quase tudo em estrangeiro.
Há duas semanas fui a uma vindima em Oleiros e também reparei que eles não limparam o chão à volta das videiras, estava tudo cheio de vides velhas em decomposição.Fiquei assim tipo em, espera para ver o que acontece.
Eu no ano passado, porque estava frio e cansada, deixei as varas da amecheeira que podei, lá espalhadas o tempo foi passando e só agora na semana passada é que voltei a mexer lá, sabe que a terra estava muito mais fofa que nos outros sitios em volta? Acabou por me dar mais trabalho, os paus misturados com as ervas, tudo meio seco, foi chato, também gosto mais de fazer logo as coisas e deixar tudo limpinho, mas fico assim… secalhar fazemos mal em limpar tudo logo.
Vivendo e aprendendo, comexperiencias umas melhores outras piores.
um abraço eugenia
Isso de deixar na terra os restos das colheitas não é nada de novo. Tem todo o sentido. Afinal nós, os humanos vamos ao campo retirar parte da produção e depois ainda tiramos o lixo, só estamos a tirar. Depois acrescentamos adubos, mas os adubos só aumenta a quantidade de nutrientes, não melhora necessariamente a disponibilidade destes para as plantas. É preciso melhorar a estrutura do solo e isso consegue-se com a introdução de matéria orgânica (estrume, resto de folhas, pequenos ramos…). Na agricultura temos o problema de pragas, de passarem de um ano para o outro, deve-se evitar pôr a mesma cultura, mas se tiver de ser, pode optar-se por queimar (perde-se azoto mas ficam outros nutrientes). Na floresta há o problema de incêndios, tem de se tirar os grandes “troncos”, os pequenos podem ficar e as folhas também. É verdade, as coisas não ficam muito bonitas e perto de casa há o problema dos bichos. Geralmente deixo as folhas (no inverno desfazem-se depressa) e opto pelo estrume em vez do adubo. Adubo só mesmo quando há falta ou nos canteiros.
(grande testamento… desculpem, entusiasmei-me)
Espero ter ajudado
Ana
O problema em algumas formas de agricultura biológica e outras alternativas é que estão, na maioria dos casos, ainda num nível experimental, e frequentemente os resultados podem não ser bem os esperados. Penso que é o caso de muitas experiências de permacultura. Eu acho que a permacultura tem potencial, mas não é de todo simples, nem algo que se aprenda facilmente num curso.
Em relação aos resíduos da poda, ou outros, pode resultar, mas há que pensar caso a caso. No caso de algumas árvores de fruto pode não funcionar com as variedades comerciais, que são bastante sensíveis a pragas e a doenças, e em que o controlo destas têm realmente que passar pela limpeza. Se forem usadas variedades resistentes o caso pode ser diferente. O problema é que durante muitos anos a selecção de cultivares quase ignorou a resistência a pragas e doenças, uma vez que o acesso aos químicos era fácil (e até conveniente para alguns). Algumas variedades tradicionais têm mais resistências, mas são difíceis de obter, e para quem as queira cultivar com fins comerciais, difíceis de vender.
Outra questão a ter em conta, e isto no que diz respeito a pragas, é o tipo de praga em questão. No caso de pragas exóticas, sem controlo natural (inimgos naturais), o controlo tem que passar muito mais por métodos culturais de prevenção, e isto significa a remoção de resíduos culturais, e por vezes a sua destruição. No caso de pragas nativas, ou já em relativo equilíbrio (que ainda são a maioria) poderão não ser necessárias estas medidas em sistemas com um bom grau de diversidade e equilíbrio. Mas este pode demorar a obter. Lembro-me de um caso que estudei na macieira, a cochonilha de S. José (tem um nome complicado que não me lembro agora), era tida como uma praga de difícil controlo natural, mesmo em agricultura biológica. Num trabalho que fiz na universidade observei ramos colhidos em vários fruticultores biológicos. Ela estava presente em alguns, mas para grande surpresa minha, num deles que tinha um pomar conduzido em modo biológico há bastantes anos, aplicando também princípios da permacultura, ela estava parasitada a um grau que possibilitava o seu controlo. Concluí, embora de uma forma um tanto empírica, que isso se devia a um equilíbrio ecológico baseado na diversidade obtido por este agricultor que não tinha sido obtido pelos outros. Curiosamente esta quinta era a que tinha um aspecto mais ‘desordenado’. Também pertencia a um entusiasta com um enorme grau de envolvimento com a agricultura, e um enorme conhecimento prático dos seres vivos com que lidava. Isso, e outros factos, levou-me a pensar que a permacultura não é para qualquer um. É preciso conhecer caso a caso as plantas com que se lida, os organismos associados, a forma como interagem uns com os outros. No caso dos pomares, por exemplo, é necessário conhecer as pragas e doenças, o ciclo de cada uma, a resistência ou sensibilidade dos cultivares para cada uma, se existe ou não possibilidade de serem controlados naturalmente, o impacto que poderão ter quaisquer medidas culturais que se apliquem na quinta sobre o equilíbrio que hipoteticamente se poderá obter…
Uma vez uma agricultora biológica disse-me que se quisesse fazer agricultura biológica tinha primeiro que aprender a fazer agricultura. E isso aplica-se ainda mais à permacultura, em que se assenta muito mais na imitação de um ecossistema ‘maduro’, ou seja, com grande grau de diversidade e equilíbrio. O que é cada vez mais complicado com a tão falada perda de biodiversidade. Bem, isto dava pano para mangas, e este comentário já vai enorme…
A permacultura é um método de cultivo que tenta imitar a natureza criando uma série de ligações positivas entre as plantas, a sua localização, a relação com o local e acaba por maximizar a relação entre energia gasta e energia recebida (por exemplo entre o trabalho que se tem e a fruta que se colhe — não é importante colher toneladas, apenas a suficiente tendo o mínimo trabalho).
Mas depois não é fácil segundo me parece e a Teresa confirma. Tem de se saber ler muito bem o local, saber que plantas vão ter sucesso (não interessa plantas que necessitam de constantes cuidados e protecção), saber localizar micro-climas que podem fazer a diferença entre o sucesso e o desastre, trabalhar a água e um sem número de outras coisas.
Eu deixo. E o que não deixo composto e acaba por lá voltar. Mas o que me refiro, que é a criação de uma floresta produtiva, é completamente diferente do que já vi. O que pretendem é acelerar o processo natural da floresta, com plantas que rebentam depois de ser cortadas… eles têm um trabalho que chamam “cut and drop” que é como o nome indica andam para lá a cortar coisas e mandar para o chão. O que costumo deixar por exemplo na Sargaçal é material não lenhoso, o que vi nos DVD é que fica tudo. Ramos grossos, troncos e tudo.
Além disso, admira-me que árvores de fruto produzam alguma coisa no meio daquela selva — algo que reparei foi na utilização de muitas árvores tropicais… conhecido nosso só vi citrinos.