Para lhe agradar

Certa vez em que eu quis ir a Karia, nas montanhas, e tinha sido vagamente informado de que havia um autocarro que efectuava essa viagem, perguntei ao empregado de mesa de um restaurante nativo a que horas e de onde partia o autocarro. O rapaz disse simplesmente que não havia autocarro algum. Mas o gerente do restaurante ouvira-me responder que devia haver um autocarro para Karia. Afastou o rapaz para um lado com impaciência. — Claro que há — disse ele. — Parte de Bal el Guissa às seis e meia da manhã. — No dia seguinte, ao fim de uma espera de três horas e meia, voltei ao restaurante para perguntar de novo, talvez de modo algo rabugento, quando é que o autocarro normalmente se dignava aparecer. O gerente mostrou-se surpreendido. — Esteve à espera desde as seis e meia? Mas não há autocarro nenhum, monsieur. — Foi necessária uma certa dose de autodomínio para que eu lhe indicasse que essa informação não estava inteiramente de acordo com o que ele me dissera no dia anterior. — Oh, ontem — sorriu ele — eu só disse isso para lhe agradar.

Paul Bowles (Viagens)

Uma resposta para“Para lhe agradar”

  1. Paula

    E é quase sempre o que acontece …
    Agora (agora) até ia até Marrocos, se passasse algum autocarro :)

  2. José Rui

    Marrocos do Paul Bowles já não existe… nem o Ceilão, Argélia… nem a Madeira. Há uma época que era de alguma forma aventurosa e que se perdeu para sempre. Tenho alguma pena (e nostalgia por coisas que só vi em filmes e livros) que não tenham sabido conservar o que era bom.

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