Se calhar
Foi então que senti uma coisa a mexer no fundo das minhas calças. Enfiava-se por ali com força. Olhei para trás e vi um pastor alemão, bem grande, com o focinho já meio metido no meu cu. Com um movimento daquelas mandíbulas, arrancava-me facilmente os tomates. Decidi que aquelas pessoas não iam ter correio nesse dia, e talvez nem voltassem mais a recebê-lo. Bem, quer dizer, é que o focinho dele não parava. SNIFF! SNIFF! SNIFF!
Voltei a pôr as cartas no saco de couro e, muito lentamente, dei um pequeno passo para a frente. O focinho seguiu-me. Dei mais um pequeno passo com o outro pé. O focinho seguiu-me. Então, dei um passo maior, mesmo muito lentamente. Já não senti o focinho. E ele permaneceu simplesmente ali parado a olhar para mim. Se calhar, nunca tinha cheirado nada assim e ficou sem saber o que fazer.
—Charles Bukowski (Correios)
Uma resposta para“Se calhar”
A difícil vida de um carteiro :)