Hoje diz-me uma amiga que foi a um evento falar e na plateia vazia, o organizador sentado na companhia de outro participante, informa-a:
— Podes começar, não vem ninguém.
Sem aturar a plateia, é como escrever num blogue em 2016.
Se queres falar para alguém, tens de ir para o YouTube. Se queres fazer de conta que estás a falar com alguém, vai para o Facebook.
Escrever um blogue em 2016 é um acto solitário. Se analisar o meu blogue sobre qualquer parâmetro, com mais de uma década como o teu, já há muito que teve a sua curva de sucesso, para decair e praticamente desaparecer do mapa. Com toda a lógica, devia acabar com ele.
Há um sketch antigo de rádio do Bruno Nogueira em que ela apresenta uma personagem como “um arquitecto quase famoso”. Para mim é uma piada privada. “Um arquitecto quase famoso” podia sem o meu “meme”, ou aquela frase conhecida: “eu já fui famoso na internet, uma vez”…
Na minha metanarrativa pessoal, terminei o meu blogue e recomecei-o em meados de 2014. Ninguém deu por isso, mas existe um “post” que marca o antes e o depois. Comecei a escrever aquilo que quero, com os meus tempos, porque gosto de o fazer. Deixei de acompanhar o “analytics”.
Sei que há uma meia-dúzia de leitores regulares. Os mais fiéis, possivelmente, nem chegam a entrar na página, seguem-me externamente no “feed” ou por email. É normal que assim seja. Os casuais que enchem a estatística, vindos do Google ou do Facebook, pouco me interessam e nenhum retorno me dão.
Estamos todos um pouco como a amiga de que falas. Um pouco estranho, também, que num tempo de hiper-redes-sociais, haja um corpo de gente que escreve coisas boas no isolamento da blogosfera, para uma plateia vazia (ou com essa sensação).
O que fazer, afinal, para nos conectar-mos, para nos encontrarmos, no ruído da rede?
Eu não quero falar :) . O Facebook tenho como instrumental, como meio para me ligar às pessoas deve ter sido do pior que já experimentei na vida. Solidão é no Facebook.
Eu fiz este texto e na verdade é o que sinto — mesmo sabendo que não é inteiramente verdade (obrigado pela visita Vilma). Vejo as estatísticas de longe a longe e tenho sempre visitantes acima de 300 por dia (muito abaixo dos acima de 800 dos tempos áureos). Desses a maior parte não está minimamente interessada no que acabei de publicar, a maior parte vem à procura do material antigo (ou pura e simplesmente enganaram-se), muito do qual apesar de ser meu, em bom rigor já não me interessa.
(É verdade que sigo o teu blogue via RSS.) Como tu, publico no meu tempo porque quero. Utilizo dois critérios, um provavelmente desde sempre, é o assunto me interessar e escrever para mim (quase notas pessoais por vezes); há uns tempos que também utilizo aquele “truque” de escrever para uma pessoa — não vou dizer nomes :). Não será só uma, mas de alguma forma penso em alguém quando publico alguma coisa que me interessa, na esperança que interesse a um. E um é sempre mais que nenhum, acaba por ser um alento. Claro que sendo eu o pessimista que sou, penso também que o mais certo é os destinatários reais ou virtuais, nem sequer verem nada. Alguns lá vão vendo e lendo.
Excelente pergunta! A minha resposta a talhe de foice é a seguinte: Dificilmente nos encontraremos na rede quando nem do dia a dia nos encontramos com as pessoas que nos interessam. Nos últimos anos comecei gradualmente a aperceber-me que falo uma linguagem diferente da maioria das pessoas que conheço, nem eles me entendem, nem eu os entendo, a comunicação não é fácil.
Portanto, encontrarmo-nos e conectarmos na rede, para mim será quase impossível — se conseguir manter a cabeça um nadinha acima do ruído já não será mau.
Eu também estou a ouvir ;)
Eu sempre achei que estava a falar para uma plateia vazia, talvez por isso as grandes surpresas que tive, e ainda tenho às vezes, são quando me apercebo de que há gente na plateia.
Não é a audiência que me mantém por aqui… Há de ser outra coisa, não sei exactamente qual.
Olá Rosa. Eu tinha essa esperança :) .
É outra coisa… pessoalmente nunca julguei ficar tanto tempo.
Como imaginas, também sigo o teu blogue e com o que publicas tenho um prazer que só consigo comparar a receber cartas ou coisas pelo correio, há 20 ou 30 anos atrás. Nunca sabia bem o que esperar, ou o que iria sair dali, mas era invariavelmente bom. E havia alguma angústia boa na espera, fosse uma carta ou uma revista que assinasse.
(O meu correio hoje está reduzido a lixo e contas.)
Miranda
O que nos faz escrever, afinal? Não é por dinheiro, decerto. Escrevemos para os leitores, para nós, para os mais próximos, para os desconhecidos, para quem? É um diário, um exercício de escrita, de reflexão, de partilha de conteúdos, de quê? Por que razão começamos a escrever? E por que razão paramos? Que esperávamos à partida que não atingimos?
Não é como os jornais e os outros meios de comunicação social que fingem que existem para informar quando na verdade existem para fazer dinheiro, e quando não fazem, fecham, claro. Não é dinheiro que nos move, aqui. Porquê o desencanto? Escrevemos porque gostamos, porque queremos, e continuaremos a escrever ainda que ninguém leia. Verdade?
Como dizia alguém, são os que gostam que fazem as coisas, que não desistem, que as levam para a frente e tornam algo numa coisa bem sucedida, porque os outros, os que não gostam assim tanto, vão-se embora quando deixa de ter graça ou as coisas se tornam difíceis. A maioria dos projectos são pessoais e ninguém tem maior empatia pelo nosso projecto do que nós próprios. Ninguém conhece o nosso projecto melhor do que nós, nem ninguém vai pegar nele se não formos nós.
Os projectos que vemos à nossa volta que têm sucesso a determinada altura (mas não antes) acontecem muitas vezes graças ao esforço de uma figura central, o carola, que insiste no projecto e continua a foçar ainda que sem resultados nenhuns durante tempos e tempos. Às vezes atingem o sucesso, a maior parte das vezes não. Qual dos dois é mais importante? O que atingiu sucesso público? Porquê? Por que motivo medimos o sucesso, e catalogamos os projectos como bem sucedidos ou fracassados, pelo número de visitas, de audiência, de espectadores, ouvintes, leitores, pelo número de comentários e afins? Não escrevíamos afinal porque gostávamos?
Uma nota ainda relativamente à medição do número de visitas. Os canais de leitura estão hoje mais automatizados do que antes. É mais comum do que antes ter leitores de RSS e agregadores de novidades que dispensam visitas directas às páginas com os conteúdos originais (eu uso uma mistura de Netvibes e Pocket). Se o sistema usado para contabilizar as visitas for o Google Analytics, essas visitas serão invisíveis porque o JavaScript em que se baseia não será activado. O mesmo acontece quando se usam extensões como o NoScript que inibem a execução de código JavaScript como o do Google Analytics. Se forem usados os ficheiros de registo de visitas em sistemas como o Awstats, a contabilização é melhor em certos aspectos, mas é preciso ter cuidado com a separação de visitas entre humanos e sistemas automáticos. Se os testemunhos de conexão (“cookies”) estiverem desactivados é provável que sejam marcados como sistemas automáticos, e o mesmo acontece com todas as outras visitas dos leitores e agregadores de novidades. É por isso possível que o decréscimo de visitas de que vejo lamentarem-se outros comentadores acima seja enganador, e que o número de visitas seja, na verdade, superior hoje ao que era antes. Muitos também não “perdem” tempo a comentar e limitam-se a ler. Quando escrevem comentários curtos são acusados de nada de relevante terem para dizer (e mais valia estarem calados); quando escrevem comentários longos ninguém os lê, e são acusados de não terem poder de síntese.
Pode soar bacoco, mas não deixemos de escrever, se é isso que nos move, se o fazemos por gosto.
Esta pergunta pode ser importante, mas está desactualizada, porque no meu caso (e Daniel, Rosa…) o “à partida” já foi há tanto tempo que já nem me lembro, terei de fazer um esforço. Eu sei que ia fazer uma espécie de diário de um terreno que resolvi comprar. Mas sei de um sentimento comum a muita gente que ou escrevia num blogue, ou simplesmente comentava (sendo comum a acumulação): De repente uma multidão anónima que sempre esteve para todos os efeitos calada, tinha voz e saía do círculo restrito de familiares, amigos e colegas. E ingenuamente começaram a pensar que isso ia fazer alguma diferença. E não fez nenhuma. Para a esmagadora maioria não fez nenhuma. E esse desencanto existe, já o senti em mim e nos outros, depois passou. Uns continuaram a escrever, outros desistiram de escrever e comentar. Hoje estão provavelmente no Facebook, com a ilusão que têm amigos que os “ouvem”. O resultado vai ser igual, provavelmente pior.
Por que motivo medimos o sucesso, e catalogamos os projectos como bem sucedidos ou fracassados, pelo número de visitas, de audiência, de espectadores, ouvintes, leitores, pelo número de comentários e afins? Não escrevíamos afinal porque gostávamos?
Isso é pessoal. O sucesso dos outros é medido pelas aparências, mas o próprio cada um é que sabe por onde o mede ou o que quer. Em última análise, depende daquilo a que se propôs.
Relativamente às estatísticas, estou consciente desses detalhes todos. Nesta fase, não é muito importante.
Uma resposta para“Não vem ninguém”
Se queres falar para alguém, tens de ir para o YouTube. Se queres fazer de conta que estás a falar com alguém, vai para o Facebook.
Escrever um blogue em 2016 é um acto solitário. Se analisar o meu blogue sobre qualquer parâmetro, com mais de uma década como o teu, já há muito que teve a sua curva de sucesso, para decair e praticamente desaparecer do mapa. Com toda a lógica, devia acabar com ele.
Há um sketch antigo de rádio do Bruno Nogueira em que ela apresenta uma personagem como “um arquitecto quase famoso”. Para mim é uma piada privada. “Um arquitecto quase famoso” podia sem o meu “meme”, ou aquela frase conhecida: “eu já fui famoso na internet, uma vez”…
Na minha metanarrativa pessoal, terminei o meu blogue e recomecei-o em meados de 2014. Ninguém deu por isso, mas existe um “post” que marca o antes e o depois. Comecei a escrever aquilo que quero, com os meus tempos, porque gosto de o fazer. Deixei de acompanhar o “analytics”.
Sei que há uma meia-dúzia de leitores regulares. Os mais fiéis, possivelmente, nem chegam a entrar na página, seguem-me externamente no “feed” ou por email. É normal que assim seja. Os casuais que enchem a estatística, vindos do Google ou do Facebook, pouco me interessam e nenhum retorno me dão.
Estamos todos um pouco como a amiga de que falas. Um pouco estranho, também, que num tempo de hiper-redes-sociais, haja um corpo de gente que escreve coisas boas no isolamento da blogosfera, para uma plateia vazia (ou com essa sensação).
O que fazer, afinal, para nos conectar-mos, para nos encontrarmos, no ruído da rede?
Eu sigo os dois no the old reader :D
Eu não quero falar :) . O Facebook tenho como instrumental, como meio para me ligar às pessoas deve ter sido do pior que já experimentei na vida. Solidão é no Facebook.
Eu fiz este texto e na verdade é o que sinto — mesmo sabendo que não é inteiramente verdade (obrigado pela visita Vilma). Vejo as estatísticas de longe a longe e tenho sempre visitantes acima de 300 por dia (muito abaixo dos acima de 800 dos tempos áureos). Desses a maior parte não está minimamente interessada no que acabei de publicar, a maior parte vem à procura do material antigo (ou pura e simplesmente enganaram-se), muito do qual apesar de ser meu, em bom rigor já não me interessa.
(É verdade que sigo o teu blogue via RSS.) Como tu, publico no meu tempo porque quero. Utilizo dois critérios, um provavelmente desde sempre, é o assunto me interessar e escrever para mim (quase notas pessoais por vezes); há uns tempos que também utilizo aquele “truque” de escrever para uma pessoa — não vou dizer nomes :). Não será só uma, mas de alguma forma penso em alguém quando publico alguma coisa que me interessa, na esperança que interesse a um. E um é sempre mais que nenhum, acaba por ser um alento. Claro que sendo eu o pessimista que sou, penso também que o mais certo é os destinatários reais ou virtuais, nem sequer verem nada. Alguns lá vão vendo e lendo.
Excelente pergunta! A minha resposta a talhe de foice é a seguinte: Dificilmente nos encontraremos na rede quando nem do dia a dia nos encontramos com as pessoas que nos interessam. Nos últimos anos comecei gradualmente a aperceber-me que falo uma linguagem diferente da maioria das pessoas que conheço, nem eles me entendem, nem eu os entendo, a comunicação não é fácil.
Portanto, encontrarmo-nos e conectarmos na rede, para mim será quase impossível — se conseguir manter a cabeça um nadinha acima do ruído já não será mau.
Obrigado por ouvires a minha palestra.
Eu também estou a ouvir ;)
Eu sempre achei que estava a falar para uma plateia vazia, talvez por isso as grandes surpresas que tive, e ainda tenho às vezes, são quando me apercebo de que há gente na plateia.
Não é a audiência que me mantém por aqui… Há de ser outra coisa, não sei exactamente qual.
Olá Rosa. Eu tinha essa esperança :) .
É outra coisa… pessoalmente nunca julguei ficar tanto tempo.
Como imaginas, também sigo o teu blogue e com o que publicas tenho um prazer que só consigo comparar a receber cartas ou coisas pelo correio, há 20 ou 30 anos atrás. Nunca sabia bem o que esperar, ou o que iria sair dali, mas era invariavelmente bom. E havia alguma angústia boa na espera, fosse uma carta ou uma revista que assinasse.
(O meu correio hoje está reduzido a lixo e contas.)
O que nos faz escrever, afinal? Não é por dinheiro, decerto. Escrevemos para os leitores, para nós, para os mais próximos, para os desconhecidos, para quem? É um diário, um exercício de escrita, de reflexão, de partilha de conteúdos, de quê? Por que razão começamos a escrever? E por que razão paramos? Que esperávamos à partida que não atingimos?
Não é como os jornais e os outros meios de comunicação social que fingem que existem para informar quando na verdade existem para fazer dinheiro, e quando não fazem, fecham, claro. Não é dinheiro que nos move, aqui. Porquê o desencanto? Escrevemos porque gostamos, porque queremos, e continuaremos a escrever ainda que ninguém leia. Verdade?
Como dizia alguém, são os que gostam que fazem as coisas, que não desistem, que as levam para a frente e tornam algo numa coisa bem sucedida, porque os outros, os que não gostam assim tanto, vão-se embora quando deixa de ter graça ou as coisas se tornam difíceis. A maioria dos projectos são pessoais e ninguém tem maior empatia pelo nosso projecto do que nós próprios. Ninguém conhece o nosso projecto melhor do que nós, nem ninguém vai pegar nele se não formos nós.
Os projectos que vemos à nossa volta que têm sucesso a determinada altura (mas não antes) acontecem muitas vezes graças ao esforço de uma figura central, o carola, que insiste no projecto e continua a foçar ainda que sem resultados nenhuns durante tempos e tempos. Às vezes atingem o sucesso, a maior parte das vezes não. Qual dos dois é mais importante? O que atingiu sucesso público? Porquê? Por que motivo medimos o sucesso, e catalogamos os projectos como bem sucedidos ou fracassados, pelo número de visitas, de audiência, de espectadores, ouvintes, leitores, pelo número de comentários e afins? Não escrevíamos afinal porque gostávamos?
Uma nota ainda relativamente à medição do número de visitas. Os canais de leitura estão hoje mais automatizados do que antes. É mais comum do que antes ter leitores de RSS e agregadores de novidades que dispensam visitas directas às páginas com os conteúdos originais (eu uso uma mistura de Netvibes e Pocket). Se o sistema usado para contabilizar as visitas for o Google Analytics, essas visitas serão invisíveis porque o JavaScript em que se baseia não será activado. O mesmo acontece quando se usam extensões como o NoScript que inibem a execução de código JavaScript como o do Google Analytics. Se forem usados os ficheiros de registo de visitas em sistemas como o Awstats, a contabilização é melhor em certos aspectos, mas é preciso ter cuidado com a separação de visitas entre humanos e sistemas automáticos. Se os testemunhos de conexão (“cookies”) estiverem desactivados é provável que sejam marcados como sistemas automáticos, e o mesmo acontece com todas as outras visitas dos leitores e agregadores de novidades. É por isso possível que o decréscimo de visitas de que vejo lamentarem-se outros comentadores acima seja enganador, e que o número de visitas seja, na verdade, superior hoje ao que era antes. Muitos também não “perdem” tempo a comentar e limitam-se a ler. Quando escrevem comentários curtos são acusados de nada de relevante terem para dizer (e mais valia estarem calados); quando escrevem comentários longos ninguém os lê, e são acusados de não terem poder de síntese.
Pode soar bacoco, mas não deixemos de escrever, se é isso que nos move, se o fazemos por gosto.
Esta pergunta pode ser importante, mas está desactualizada, porque no meu caso (e Daniel, Rosa…) o “à partida” já foi há tanto tempo que já nem me lembro, terei de fazer um esforço. Eu sei que ia fazer uma espécie de diário de um terreno que resolvi comprar. Mas sei de um sentimento comum a muita gente que ou escrevia num blogue, ou simplesmente comentava (sendo comum a acumulação): De repente uma multidão anónima que sempre esteve para todos os efeitos calada, tinha voz e saía do círculo restrito de familiares, amigos e colegas. E ingenuamente começaram a pensar que isso ia fazer alguma diferença. E não fez nenhuma. Para a esmagadora maioria não fez nenhuma. E esse desencanto existe, já o senti em mim e nos outros, depois passou. Uns continuaram a escrever, outros desistiram de escrever e comentar. Hoje estão provavelmente no Facebook, com a ilusão que têm amigos que os “ouvem”. O resultado vai ser igual, provavelmente pior.
Isso é pessoal. O sucesso dos outros é medido pelas aparências, mas o próprio cada um é que sabe por onde o mede ou o que quer. Em última análise, depende daquilo a que se propôs.
Relativamente às estatísticas, estou consciente desses detalhes todos. Nesta fase, não é muito importante.
Obrigado pelo comentário.