Concretamente: A Água do poço

No Dia Com Árvores, mais uma vez é dado conta de algo que se vai perder irreversivelmente (ou praticamente impossível de revogar). Pensando nisso, ambientalmente falando, ou seja para mim, qualidade de vida, as mudanças são à nossa porta. O que se ganha em asfalto e cimento, vai-se perdendo inabalavelmente em tudo o resto. Eu não vejo as pessoas mais felizes, pelo contrário.
Há muitos anos, tanto na casa dos meus avós maternos (onde vivia com os meus pais e irmão, no primeiro andar), como na casa do lado das primas, como na casa dos meus avós paternos e na do lado (onde vivemos agora) a cerca de dois quilómetros, sempre se bebeu água do poço.

Entretanto, depois do 25 de Abril, uma insalubridade qualquer atravessou o país e lembro-me que houve um surto de cólera. Passamos a beber “água do Luso”, que era distribuida em garrafões de vidro, que eu tinha de ir comprar à mercearia (levando o antigo, claro), exactamente na hora do meu programa a preto e branco preferido (que na época eram mais ou menos todos).
Entretanto, a coisa passou, mas nunca mais se deixou de comprar “água do Luso”. Analisados os poços, a água continuava potável. Gostava especialmente da que bebia na casa da minha avó, que colhia um limão e fazia sempre refresco bem gelado, deixando correr a água durante longos minutos no Verão.
O tempo passou, muita gente faleceu (dessa geração familiar apenas o meu avô materno continua vivo), a água da companhia chegou e a água dos poços foi esquecida, ou passou a ser usada apenas para regar os jardins. Mas, não foi esquecida porque se instalou a água da companhia: tornou-se imprópria para consumo, contaminada. E não foi só nos quintais. Na Senhora da Hora, existe a famosa Fonte das Sete Bicas, imprópria para consumo; a Fonte do Carriçal, onde uma tia minha ia lavar roupa e tanta gente se abastecia de água, imprópria para consumo.
É algo concreto, que não só aconteceu no meu tempo, como em muito poucos anos, 15 no máximo. Tínhamos água pura nos nossos quintais e alguém a trocou por água contaminada. Foi isso que aconteceu. E num ano de seca como este, seria bom que as pessoas reflectissem um pouco, sobre o real valor da água.
Mas, alegrai-vos! Temos o primeiro “Continente” do país e o “Norte Shopping”, um autêntico monumento à fealdade. Dizem que é o progresso.
Alguém mais já observou algo insubstituível a desaparecer da sua comunidade? E para além de asfalto e cimento, alguém observou algo a aparecer?

Uma resposta para“Concretamente: A Água do poço”

  1. Manuela

    Viva
    Sobre o parque do Inatel tenho ainda esperança que o processo não se tenha tornado irreversível. Pelo menos há mais gente, concretamente o próprio Inatel (o que é importantíssimo) que não está pelos ajustes. Ver os links das notícias emInatel-Ramalde

  2. Filipe

    Coisas positivas, começaram a aparecer bons blogs como o teu.
    Negativo mais recente, no alargamento da autoestrad A5, encanaram uma pequena ribeira, que eu conhecia o percurso e não tinha nenhuma fonte de poluição. Era o meu local de apanha de poejos anual, este ano lá vou ter que descobrir outro local, se calhar até um dia não haver.

    Dá um salto ao meu blog para veres u insecticida biológico.

  3. jrf

    Sem falsa modéstia, não considero este blog (e os outros) coisas suficientemente positivas. Refrescantes, sem dúvida, mas também muito por via da novidade que constituem.
    Tudo é extremamente lento (por exemplo a construção de comunidades interessadas, via blogs). A destruição é extremamente rápida.
    Quanto aos poejos, tive que dar uma volta no Google para saber o que são :) .
    Obrigado pela sugestão do insecticida.
    Onde tens a tua “fazenda”?

  4. Filipe

    A minha “fazenda”, começa por ser o meu quintal,em S. Domingos de Rana , Concelho de Cascais,além de fazer parte de um Centro de apoio aos idosos e ter começado a desenvolver o jardim do Centro com novas espécies e com ervas aromáticas.
    O meu pai tem um terreno com cerca de 2 hectares na Lourinhã e aí começo a ter espaço patra outro tipo de expriências.

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