Sobre potenciais invasoras

Algo preocupado com a questão das plantas potencialmente invasoras e alertado para o problema pela Jardineira Aprendiz, que continua a focar o problema de forma interessante no blog, contactei o Projecto Invader da Universidade de Coimbra. Elizabete Marchante, uma das responsáveis da página, respondeu-me e pedi autorização para publicar a mensagem que se segue sem mais delongas (a formatação e a ligação dos links são minhas).

A prevenção é sem dúvida o melhor caminho, evitando ao máximo a propagação de espécies que já causam problemas no nosso país ou a introdução de espécies que revelam comportamento invasor noutros locais do mundo, principalmente em climas comparáveis ao nosso. O dec-lei 565/99, que regula a problemática das espécies exóticas e invasoras, lista, por um lado, as espécies exóticas e depois assinala entre essas as que são consideradas invasoras em Portugal. É uma ajuda mas está ainda bastante incompleto, tanto a nível de espécies invasoras (algumas com comportamento visivelmente invasor em Portugal não vêm referidas) como de exóticas (o número de espécies exóticas actualmente utilizadas a nível de jardinagem, floricultura, etc, etc. é superior ao que vem referido). A introdução de novas espécies está sujeita a uma autorização das entidades competentes acompanhada de uma análise de risco. Mas, tanto quanto sei, infelizmente, isto não está a ser aplicado nem de qualquer forma “vigiado”.

Quanto à sua lista de espécies, tanto quanto tenho conhecimento, nenhuma delas causa problemas em Portugal. O que fiz foi consultar algumas bases de dados (www.gisp.org e bases de dados ai ligadas, www.issg.org, WWF- Jumping the Garden Fence), mas tenho ainda alguns livros para consultar (não os tenho aqui comigo, pelo vou ter que pedir a uma colega e isso vai demorar mais uns dias). Várias espécies são referidas como invasoras noutros locais do mundo:
Miscanthus sinensis — invasora em vários estados dos EUA.
Lycopersicon esculentum — invasora na Polónia.
Centaurea cyanus — invasora em dois estados dos EUA; e muitas espécies de
Centaurea são invasoras em climas diversos, incluindo Europa, Austrália e EUA .
Apium graveolens — invasora na Austrália, mas não das piores; várias outras espécies nos EUA.

Para outras espécies, apesar de não encontrar qualquer referência à espécie que menciona (apesar de isto não ser uma garantia que não seja invasora algures), várias espécies do mesmo género são problemáticas: Solanum (por todo o mundo, creio que mesmo em Portugal, uma espécie no Sul, mas tenho que confirmar), Helianthus (Polónia, Austrália e EUA), Salvia (EUA e Austrália), Scabiosa (EUA e Asutrália), Physalis (Polónia), Allium (Australia), Lavandula (Austrália).

Quanto a Bouteloua e Sorghastrum, não tenho conhecimento de nenhuma invasora destes géneros.

Claro que não lhe posso pedir para não semear algumas das plantas, mas o meu conselho seria no sentido de evitar as três primeiras, visto serem já referidas como invasoras em vários locais, como climas algo comparáveis ao nosso.
Quanto aos géneros que têm várias espécies que apresentam comportamento invasor (mas não a que refere), seria possível observar o seu comportamento antes de começar a distribuí-las por jardins? Espécies que produzam muitos descendentes e muito facilmente, i.e., que comecem a aumentar a área que ocupam sem intervenção/ajuda do Homem podem ser problemáticas à partida.

Mesmo os géneros que não são referidos como problemáticos, nada garante que não o venham a ser. Muitas espécies comportam-se como “inofensivas” durante muitos anos e de repente um qualquer “estímulo” proporciona que se comecem a comportar como invasoras (por exemplo, uma alteração do clima, dos polinizadores presentes, um fogo, uma perturbação, é muitas vezes imprevisível…). Por exemplo, algumas acácias precisaram de fogo para aumentarem as suas populações; a erva-da-pampas (Cortaderia selloana) [ver o Do Meu Jardim — JRF] até há alguns anos não dava problemas, mantendo-se apenas nos jardins onde fora plantada, e a partir de certo momento começou a aumentar de forma assustadora, não se sabe muito bem o que funcionou como “estímulo” neste caso, talvez a introdução de um dos sexos que até aí não estava presente.

Uma resposta para“Sobre potenciais invasoras”

  1. Paulo Siruffo

    Percebo a presença o Salsão (Apium graveolens) na relação de plantas potencialmente invasoras. Fico curioso com essa inclusão, posto que esse vegetal não se propaga de forma espontânea como as plantas “daninhas, invasoras ou concorrentes”. Para que essa planta continue a crescer, sabemos que é necessário o seu replantio. Há muito, o Apium graveolens é usado como alimento. O nome Apium traduz a forma latina de água (em celta é Apon), referindo-se ao habitat natural desta planta. O adjetivo graveolens significa “aroma forte”. O salsãp possui cheiro ativo em todas as suas partes. A vinte espécies silvestres podem ser encontradas tanto na Europa, como na Ásia, nas Américas e em algumas regiões da Antártida. É utilizado na cozinha onde dá sabor agradável às sopas, cozidos, peixes, aves e assados. Possui conhecido uso terapêutico. Muito obrigado por sua atenção.

  2. jardineira aprendiz

    Fiquei um pouco surpreendida por saber que o tomate (Lycopersicon esculentum)é uma planta invasora na Polónia, é verdade que ele nasce com bastante facilidade mas também é destruido pelo frio.

    Muitas das nossas nativas são invasoras noutros continentes, mas não cá, naturalmente, espero que nenhuma espécie de Lavandula o seja, mas também tenho curiosidade porque algumas espécies do género são nativas do norte de África e sudoeste da Ásia e isto já é um pouco distante.

  3. jrf

    Na mesma linha, também achei estranho o Tomate “Alicante” Lycopersicon esculentum ser invasor na Polónia. Não sei, pode ser que tenha sido detectado esse comportamento em circunstâncias específicas, mas estou praticamente seguro quanto à plantação cá. Se fosse invasor era a salvação da economia, pois é uma das variedades mais comerciais.

  4. Elizabete Marchante

    O meu comentário inicial relativo a esta espécie foi baseado na base de dados de invasoras da Polónia, na qual não fazem muitos comentários, apenas a consideram invasora. Mas após os comentários acima averiguei um pouco mais. Esta espécie é referida como invasora também na Lituânia, Itália e vários outros locais com climas mais quentes desde ilhas do Pacífico e Indico, Galápagos. Claro que não se vai deixar de cultivar tomate, o que pode representar algum risco é se “escaparem de cultivo”. O que tinha percebido em relação à lista de espécies é que seriam espécies para plantar em jardins (mas já me esclareceram quanto a isso), o que poderia representar um risco acrescido. Não quer dizer que o tomate se vá tornar invasor em Portugal, mas apenas que é preciso ter cuidado se for plantado em áreas não destinadas a consumo, porque mais facilmente podem “escapar”.
    Quanto a ser destruído pelo frio, “a germination experiment shows a degree of frost resistance of the produced tomato seeds which is sufficient to survive winter temperatures to a considerable extent” (in: Schmitz, U. (2004): Frost resistance of tomato seeds and the degree of naturalisation of Lycopersicon esculentum Mill. in Central Europe. Flora 199: 476-480).

    Quanto a “Apium graveolens”, também é referido como invasor em vários locais. O facto de nalguns locais ser de difícil propagação não é garantia que não vá dar problemas noutros locais.

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