Chegou a hora de regressar
Sábado. Desta vez cheguei cedo, mas a chuva não parava. O Cláudio não apareceu outra vez e não é preciso ser genial para saber que o meu futuro por aqui é andar sozinho.
Faço o que posso e o que não puder não faço, ou contrato alguém esporadicamente. Preferia o Cláudio, mas ele está numa fase complicada, nos seus dezoito anos, e ir buscá-lo à cama não vou de certeza.
A família apareceu para irmos almoçar, mas antes ainda apanharam umas castanhas. Quando voltamos do almoço, o tempo descobriu espectacularmente. Vale a pena andar aqui à chuva só para ver tudo a brilhar de cada vez que o Sol aparece. Eles apanharam mais algumas castanhas e regressaram.
Eu fiquei. Quando saí já era noite cerrada, há sempre que fazer e parece que me rende mais nas duas últimas horas. Andei a acartar areia e brita que tem junto ao Tanque 2, para colocar por baixo das caixas de água. Fiquei todo empenadinho, era de uma ponta terreno para a outra. Comecei pelas caixas mais distantes. O problema (há sempre problemas) é que algumas já estavam atulhadas de terra, de qualquer maneira –, à Cláudio. Foi necessário desenterrá-las, nivelar e voltar a enterrar. Durante a tarde ainda apanhei castanhas e levei duas carrelas de pedras para junto do Lameiro Pequeno.
Isto de andar sozinho, não é assim muito mau, acho que depende dos dias. Um dia conheci um senhor na Motocapucho, que comprou uma terra no Pinhão. Disse-me que andava sempre sozinho e ia fazendo tudo. Os amigos gostavam era de umas garrafinhas de vinho de vez em quando. Pessoalmente não posso censurar ninguém por isso. De resto, a vida já é complicada que chegue, para ainda irem para o Sargaçal dar cabo do corpo. Além disso, sem uma casa de banho por perto, as mulheres não se sentem muito à vontade no campo.
Para mim funciona para recarregar as baterias e desta vez transbordaram. Senti-me maravilha e ficava um mês se pudesse. Estou a chegar à conclusão que o Verão é uma estação muito sobrevalorizada. A Primavera é de muito interesse com a explosão de vida, mas o Outono e o Inverno têm um encanto especial, no meio do campo. O Outono, é um esplendor de cor e o Inverno, com o gelo e o frio, transforma pequenas coisas como uma bebida quente, em momentos especiais. Ao construirmos aqui algo, terá de ser com isso em mente. Não vamos querer uma casa de Verão. Já estou mortinho por voltar. Parece que vem cá o Renée em breve (que é um amigo do pai da Susana que vive na Suíça) e vai servir de pretexto para mais dois ou três dias na Casa de Rebolfe (ou na Casa do Lódão, talvez).
Esta zona do ribeiro está bastante diferente de há um ano atrás, limpa e com os Acer pseudoplatanus à esquerda.
Uma resposta para“Chegou a hora de regressar”
Será a casa de Rebolfe a que conheço? Debruçada sobre o Douro qual enamorada buscando a imagem do seu amado? É linda… Nunca tive a oportunidade para a ver por dentro. Já estive para marcar um fim-de-semana, mas, na altura, ficava um bocadinho fora do orçamento.
Hei-de compensar essa falha em breve!