5,7l/100km
É quanto gasto de carro, se o meu regresso for de condução extremamente calma. Poderei gastar 7l se acontecer o inverso. Neste caso, vim extremamente nas calmas, talvez em descompressão da pouca vergonha que se passou em casa do Sr. Abel, onde parei no regresso.
O Mundo é pequeno e a Internet ainda mais. Usarei siglas, porque de confusões estou eu farto.
Parei em casa do Sr. Abel para falar do trabalho bem feito que ele fez no Domingo passado (plantar as couves lombardas e nabiças) e voltar a pedir o número de telefone porque tinha perdido o telemóvel. Como não gosto de mal entendidos, falei das pencas comidas pelas vacas e do facto de as pessoas acharem que por acaso até foram as dele. O que eu fui fazer!
O homem que até então era todo vénias e salamaleques, dá um salto para trás e brada a ranger os dentes “ò amigo, comigo o senhor acabou”. Quando me chamam amigo (já sem falar em ouvir os dentes a ranger), sei logo que o caldo está entornado. O que eu ouvi… Que berreiro ali no meio da rua!
Fui mantendo a postura, ia falando calmamente, olhava-o nos olhos e ele lá ia acalmando. Entretanto apareceu um dos filhos e a mulher. Pensei que ia ser o fim do Mundo, mas a mulher foi correcta, ele é que andava ali às fúrias, “preferia que as vacas morressem hoje na corte” a que o acusassem de semelhante coisa. Entretanto, sai outro lá de dentro a perguntar o que se passava e o homem já bastante calmo, volta à carga. Chama-me burro. Quanto mais o outro dizia para ele se acalmar, mais alto ele me chamava burro e estúpido (foi comedido neste aspecto). Um espectáculo dantesco. Nesta altura, já pensava que o animal me ia saltar aos tornozê-los. Virei costas, meti-me no carro e ainda consegui ouvir o outro a dizer “noutra altura falam melhor”. Está certo, mal posso esperar por esse falatório.
Este Sr. Abel foi-me “recomendado” pelo Sr. C, amigo do meu pai — queria colocar as vacas no terreno. Por coincidência encontrei-o por lá com o Sr. Fausto a ver a levada. Noutro dia o Sr. A disse-me que não falava com o Sr. Abel porque apesar de ser trabalhador era um malcriadão e uma vez ouviu do piorio porque ele também se tinha instalado nos terrenos dele e só fez asneirada. Outro que também já levou a dose, foi o Sr. Cristóvão, porque segundo o Sr. A o Sr. Abel nem a idade das pessoas respeita.
Na Quinta, ao chegar parei para falar com a Sra. A que mal ouviu o nome “Abel” não conseguiu disfarçar um esgar. Mais tarde o Sr. AD, disse-me para ter muito cuidado com quem metia no terreno e para me informar primeiro. Aquilo era fraca gente. E assim sucessivamente.
Ora bem, eu quando parei na casa do homem, já ia com vontade de o chamar o menos possível e com esperança que isso unido ao facto de ele andar muito ocupado, deixasse a coisa morrer naturalmente e sem grande alarido. Não há dúvida que morreu, mas não sem antes dar o show psicadélico como manda a lei.
Quando me chateei a primeira vez com o Sr. Cristóvão, fiquei transtornado. Quando me chateei a segunda vez, fiquei incomodado. À terceira vez, encolhi os ombros. Com este energúmeno, foi o mesmo. Encolhi os ombros. Suponho que estou habituado, ou resignado com a realidade.
Isto é em todo o lado onde existem pessoas. Quando a estupidez não comporta qualquer risco, os motivos surgem por si (já dizia Céline, se não me engano). É a mediocridade no seu melhor, mas não é a dos gabinetes e repartições, que fala o Dr. Pacheco Pereira. Esta não vai com reformas. Vai com o tempo, se for. E muito.
Já uma vez tinha falado de um senhor que encontrei na Motocapucho. Na conversa também me disse que estava a ser processado por um poço que lá tinha (e nem foi ele que fez), porque o vizinho alegava que não estava à distância devida. Ou seja, o vizinho — bronco, mas chico-esperto –, achou que chegou ali um tipo caido de pára-quedas e que tinha o direito de lhe estorquir umas massas. Isto no Pinhão. Não há milhões que cheguem na UE para educar este povo.
Moral da história: A vida no campo é muito bonita, mas é preciso estar preparado para o bom, o mau e o horrível. No entanto há coisas, para as quais nunca estaremos preparados e custa muito.
A tocar no iTunes: Let the Bells Ring do álbum “Abattoir Blues (Disc 1)” Nick Cave & The Bad Seeds (Classificação: 4)
Deixe um comentário