Inverno do nosso descontentamento
Isto admite-se? Do outro lado do ribeiro, a 100m do nosso terreno? Já estou farto de falar de incêndios e mais ainda de os ver. Nem no Verão vi uma situação destas. Dia e noite a mata a arder. Três, quatro, cinco focos de incêndio. Uma nuvem castanha permanente para os lados do Marco. E não era de chuva.
A culpa não é do governo. É das gentes. Da idiotice. Têm que fazer as queimadas. E eu não escapo à idiotice.
Antes de chegar, tinha telefonado ao Cláudio a avisar que estava algo atrasado. Disse-me que esteve a queimar na tapada o monte que lá andava. Fiquei logo azedo. Tinha-lhe dito especificamente que não queria que queimasse nada — na tapada, no caso concreto, em resposta a uma pergunta concreta –, e em geral como uma ordem para levar muito a sério e com mais de um ano.
Ou é idiota, ou faz-se. Tem sérios problemas de compreensão. Quando lá cheguei, já o desastre estava consumado. Uma cagada preta em três actos. Desculpa: “Foi um acidente”.
Mais: A proprietária do terreno logo abaixo, um silvado indecente (mas com árvores ainda espectaculares), disse-lhe que podia deixar arder o dela que não fazia mal nenhum. Então é que não sobrava nada — nem do dela, nem do nosso. O que ela lá tem é pólvora pura. Que tristeza confrangedora.
Mais tarde, tive a oportunidade de ser eu o idiota. Estava a plantar Cedros-do-atlas quando o local se revelou ocupado por um monte de detritos. Pensa não pensa, parecia-me pequeno o monte, à volta mais ou menos limpo, decidi queimar aquilo e bastou chegar-lhe o maçarico do canivete suíço. Fosga-se, vi-me aflito para controlar o fogo! Rapidamente alastrou, saltou para a quelha de cima, calor insuportável… Felizmente tinha água perto, fui buscar dois baldes e a coisa ficou por ali. Mas, dá que pensar. Como é que pessoas já velhas e experientes continuam a chegar fogo a tudo, num Inverno destes?
Uma resposta para“Inverno do nosso descontentamento”
Então é assim difícil de controlar!?
…………..
Vai ser “bonito” este ano!!!!!
É difícil. E isto que aconteceu foi apenas com fogo rastejante. Quando se queima folhas secas, há um milhão de pequenos detridos flamejantes a voar (vê-se muito bem de noite), que podem alastar o fogo a vários metros de distância.
Só volto a queimar depois de chover, com água ao lado e com licença dos bombeiros (4 euros, acho eu) — se acontecer algo lamentável, pelo menos fico isento da parte criminal.