26 dias
Pelas minhas contas, estive 26 dias sem ir ao Sargaçal. Nem quando o Pedro nasceu estive tanto tempo sem lá ir.
São os incêndios, os incêndios, os incêndios e o trabalho. Os três primeiros desmotivam-me e o último tira-me tempo. Em Agosto, para alguns irem de férias, outros têm que ficar a trabalhar. Não me queixo, só gostava de ter ido mais uma ou duas vezes ao Rio Bestança.
O meu pai está cheio de bronquite e já se colocou de fora. Insisto. Faço gestos teatrais de desespero e pronto, lá concorda em ir. E já agora, que guie até lá, porque estou cheio de sono e na última vez quase que dava cabo do jipe.
Tudo queimado. Não me canso de repetir isto. Em Valongo, à volta de uma biblioteca construida no meio de árvores e coisa nenhuma, tudo ardido. Plantações novas, 10 anos no máximo, árvores alinhadas a régua e esquadro. Tudo limpo e queimado. A ver o que nasce à volta de tão singular biblioteca. Árvores não vão ser de certeza.
Resolvemos dar uma longa volta pelo terreno. Gosto sempre de fazer isso após longas ausências. A bronquite do meu pai passou, como por milagre. Mas não é milagre, são as árvores e o ar. Porque é que as pessoas não entendem isso? É por estas e por outras que gosto de andar lá, o ar é diferente, tudo é diferente. E o estado em que o meu pai estava na noite anterior… Isto não tem preço. “Pareço um menino de 20 anos”, dizia ele.
Nas cidades, é uma pena que o lixo a que se chama ar, não tenha uma qualquer componente visual. Sei lá, roxo para o dióxido de carbono, vermelho para o monóxido de carbono, azul para óxidos de nitrogéneo, castanho para partículas… Com todo este colorido, a iluminação pública tinha que estar sempre acesa, mas aí talvez as pessoas compreendessem.
Notei secos, mais castanheiros que os que desejaria. Isto é impossível. Os castanheiros são a única coisa que lá temos remotamente parecida com investimento. Já plantei uns 130 e não devemos ter mais de 40, já perdi um bocado a conta. O que é triste, além de caro. Com o belo ano de 2005, somos capazes de acabar com menos do que começamos. Mesmo algumas árvores com uns poucos anos secaram. Péssimo!
No Lameiro da Gracia, melhores notícias. Algumas bétulas secaram, uns freixos e uma ou duas tílias e áceres. De resto, tudo a medrar. Mais uns pinheiros e carvalhos espontâneos que por lá andam. Vai ficar espectacular.
O Cláudio tem regado alguma coisa. Nesse aspecto está melhor que em 2004. Nos últimos tempos, como tenho a roçaceira Shtil meia avariada e ele comprou uma Kawazaki, pediu-me para lá ir cortar erva com a dele. Tudo bem, não me importo de o ajudar a pagar a máquina — sai o dia ao dobro do preço.
Cortar, cortou, recolher é que não é preciso. Ou seja, não tenho vantagem nenhuma no corte. Claro que o apanhar, não é com a máquina… É engraçado como pessoas que literalmente não sabem somar dois e dois, facilmente fazem estas contas. Lá tive que falar com ele. A vantagem é que apesar de tudo, o Cláudio entende o que se diz e sabe reconhecer o que está mal muito facilmente.
À conta da erva cortada no lameiro, fui ao chão duas vezes. Não sei como. Da segunda, pensei que ia parar lá abaixo (o balde que eu tinha foi) — eram só uns 50 metros a rebolar. Era lindo. Se tivesse menos uns anos até era capaz de fazer isso de propósito… A erva ultra-seca, tipo palha, numa superfície inclinada, até dá para esquiar. Desta vez, o meu pai não caiu.
Fomos almoçar ao “O Meu Gatinho”, comeu-se bem, como de costume. Colhemos o que havia para colher. Enchemos garrafões de água. Essa nascente nunca teve tão pouca água e as outras também diminuiram bastante. Recolhi umas quatro ou cinco carrelas de lenha que andava para lá espalhada. Regamos. Regressamos. E foi assim.
A silhueta na fotografia é um Acer pseudoplatanus. Foi um deste grupo que algum vândalo partiu.
A tocar no iTunes: Bold Marauder do álbum “Five Ways of Disappearing” Kendra Smith (Classificação: 5)
Uma resposta para“26 dias”
Em Valongo, à volta de uma biblioteca construida no meio de árvores e coisa nenhuma, tudo ardido (…) A ver o que nasce à volta de tão singular biblioteca. Árvores não vão ser de certeza. .
Receamos que suceda o mesmo na “Quinta do Paço da Serrana”. A ver vamos…
Manuel
Como evitar incêndios e produzir energia: “Transformar os incêndios descontrolados de Verão
em incêndios controlados ao longo de todo o ano”
ler o artigo em:
http://www.resistir.info/portugal/incendios_florestais.html