Ano novo ambiental
A minha previsão é que continuaremos a assistir, impávidos e serenos, à escalada da degradação ambiental globalmente e a todos os níveis.
No nosso país em particular, esse que por aí anda a veranear e que já foi ministro do ambiente, podia num assomo de decência, extinguir o ministério do ambiente, que mais não faz do que tapar o Sol com a peneira e mal. Para confirmar a utilidade pública de tudo o que prometa milhões a este país de tostões, não é necessário um ministério do ambiente. Voltaremos a ter seca, incêndios (se bem que menos, considerando um milhão de hectares consumidos nos últimos cinco anos), problemas com a qualidade da água, construção desordenada, erosão costeira e descargas na emblemática Ribeira dos Milagres. Este país de tão previsível, encontra-se ao alcance de qualquer astrólogo.
Entretanto surgiram umas cabeças pensantes que descobriram que a energia nuclear é a solução para todos os nossos problemas energéticos e eventualmente outros. A energia nuclear não existe sem subsídios, é um desastre económico, é um pesadelo de segurança em duas frentes (considerando o clima político mundial actual) e continua a não haver solução para os detritos radioactivos.
O único grande e simplista argumento a seu favor, é que efectivamente não contribui para a produção de gases com efeito de estufa. Eis como um problema grave é afinal solução para outro problema, apresentado quando interessa, como gravíssimo. Neste contexto, até George W. Bush reconhece que o aquecimento global tem origem antropomórfica e apresenta a “energia verde” como solução. Cientificamente falando, o presidente norte-americano é uma autêntica constante universal.
Quanto a coisas extremamente simples, que deviam vir muito antes das extremamente complicadas, vamos continuar sem ver a energia solar térmica aplicada pelo menos nos edifícios novos. E nesta terrinha, o que não faltam são edifícios novos. E também continuaremos sem ter compostagem em cada lar. Este último podemos garantir que funciona e a energia solar térmica esperamos instalar em Fevereiro.
Já que ao nível central se prevê que continue tudo na mais abúlica das pasmaceiras, só posso tentar persuadir-vos a fazerem individualmente o que podem — e acham que devem –, pelo ambiente. Não que vá adiantar alguma coisa, mas no fim do dia sentir-se-ão bem melhor.
Uma resposta para“Ano novo ambiental”
Aproveito a minha passagem por aqui para expressar a minha discordância com a última frase. “Não que vá adiantar alguma coisa,…”
Alguma coisa sempre adianta o que não quer dizer que seja suficiente. Mas como acredito no poder do individuo, acredito que por cada pessoa a colocar energia solar térmica ou a fazer compostagem, a probabilidade de outras o fazerem vai aumentando, até eventualmente se atingir a concentração minima para que o Boom aconteça.
Caro Pedro, não vai acontecer nenhum “boom”. Há indivíduos e indivíduos.
Há o indivíduo que manda fazer sacos de plástico para uma conhecida cadeia de supermercados e o indivíduo da loja da esquina. Ambos podem mandar fazer sacos biodegradáveis, por mais meio cêntimo. Eventualmente, só o último os mandará fazer, com um impacto desprezível. O mais certo, é nenhum os mandar fazer.
Se o primeiro — e outros como ele –, habitualmente com grau académico, mas indouto, os mandasse fazer seria o inverso — sacos biodegradáveis seriam meio cêntimo mais baratos e aí todos os mandariam fazer, conduzindo a nova queda de preço. As leis do mercado funcionam também a favor do ambiente, a massa crítica é que nunca aparece. Porque o indivíduo que tem o poder, não deixa, não quer ou não sabe, numa palavra está-se a marimbar. O veraneante é um bom exemplo disso.
Como já disse antes, as minhas acções contradizem-me muitas vezes, mas trata-se somente do modo como quero viver a minha vida, tentando passar por este Mundo estragando pouco.
Embora possa compreender as razões do teu ponto de vista. Recuso-me a deixar de acreditar que o Homem não mude. Serei sempre e cada vez mais um optimista. Talvez tenha isso a ver com a minha, ainda recente, condição de Pai e acreditar no nascimento de uma nova consciência, de uma nova Era.
Os meus parabéns.
Olha, eu devia ser duplamente optimista, mas só penso como é que o Pedro e a Luisa daqui a trinta e poucos anos, da minha idade, vão ver e viver tudo isto.
Há pessoas a observar estas coisas do ambiente há 40 anos e mais. Até agora só viram degradação. Eu só vi degradação. Por cada espécie que se salva in extremis, há 100 que ficam em perigo, muitas que se extinguem. Por cada corte ilegal de madeira que se impede, 1000 seguem o seu caminho, por cada pessoa a defender o ambiente, há 10.000 a destruir e outras 1000 a ridicularizar… E assim sucessivamente.
Não estou a criticar o facto de seres optimista, longe disso, não faria sentido. Eu é que não posso, nem tenho razões, para ser ambientalmente optimista. Mas, não passo a vida a antecipar o inevitável, isso seria insuportável e nem poderia ter sido pai duas vezes. Isso revela algum optimismo da minha parte mas uma infinita apreensão acompanha-me. Vou andando e vou vendo.