O preço da insustentabilidade

Há poucos meses surgiu a notícia (BBC) de um interessante exercício/estudo histórico, económico, ecológico. Num acto muito original, que alguns poderão considerar pouco ortodoxo, investigadores muniram-se de ementas de variados restaurantes, cobrindo um período compreendendo aproximadamente um século, e estudaram a evolução dos preços dos “pratos”, ao longo dos tempos, consoante os seus ingredientes, ou seja as principais espécies marinhas suas constituintes. Na minha opinião foi um estudo primitivo da evolução histórica da insustentabilidade ambiental galopante provocada pela humanidade, e suas consequências.

Obviamente que o interesse principal assumido por tal estudo, englobado em algo mais geral, é o de relacionar os preços com a ausência/presença, abundância/falta, degradação ou não de um determinado stock de pesca e sua evolução histórica. Sabendo que há muitas variáveis a considerar num estudo como este, eminentemente temporal, e nomeadamente relacionadas com questões económicas, sociológicas, evolutivas (por exemplo da pesca), da preferência de uma determinada espécie (modas), mudanças de “pratos”, etc., não deixa de ser um estudo que mesmo rudimentar permitirá sem dúvida ponderar sobre os efeitos da insustentabilidade causada pelo homem e, principalmente, sobre qual o seu preço.
O homem, Homo sapiens sapiens, é por muitos considerado como a espécie dominante deste planeta, enquanto que por outros só supostamente o será, senão veja-se o quanto as nações andam a tremer de medo por uma simples (ou complexa) variante de um vírus podendo ser ele mesmo (Homem) o criador/autor/impulsionador desse problema que tanto o vem atemorizando (Guardian Unlimited). Julgando-se dono e senhor deste planeta esquece-se de que apenas é mais um elemento de um sistema vivo que para sobreviver necessita de manter um equílibrio.
Por muito que se apoiem ou neguem factos, ou teorias, do momento presente que atravessamos, e do futuro que nos espera, é incontornável a certeza de que o homem marcou, marca e marcará este planeta, sendo algumas das suas consequências já irreparáveis.
É evidente que o homem enveredou por um caminho eminentemente insustentável, em que obviamente o primeiro a pagar por isso está a ser o meio ambiente. No entanto vivemos num plano em que há determinadas regras imutáveis em sistemas como por exemplo o da regra do “par acção-reacção”.
Este estudo realizado, pode vir a ser mais um elemento básico de prova, quando generalizado, de que a insustentabilidade ambiental, como acção, naturalmente causa, ou causará, uma insustentabilidade económica (ou dos seus presentes modelos), reacção, que terá também repercussões a nível social (ou dos presentes modelos), nova reacção à acção anterior, numa cadeia de acontecimentos sequenciais e lógicos.
Sendo difícil e contestável falar em concreto e com certezas do que nos reserva o futuro, no entanto pode-se sempre especular, sobre um leque razoável de cenários possíveis, e com os de maior probabilidade de se tornarem reais, e brincar didacticamente com futurologia. Perante isso parece-me inegável que o caminho da insustentabilidade, nomeadamente, e infelizmente, o da insustentabilidade económica e social, só depois do preço a pagar pelo ambiente, eventualmente conduzirão a um caminho de sustentabilidade ambiental, apesar dos muitos danos, e irreparáveis, entretanto perpretados.
Com isto eventualmente a teoria do caos poderá ter outro exemplo de prova: de como de um caos ambiental e ecológico, de uma desordem e desequilíbrio de um sistema vivo planetário se fará ordem. E eventualmente o preço da insustentabilidade presente será o da sustentabilidade futura, algo não tão impossível de alcançar como alguns poderão pensar.
Quem estiver mais atento poderá ver que os primeiros sinais e drásticos, do que falo, estão a ser dados no momento presente, e continuarão a ser dados ainda mais, pelo sector energético do mundo, com um certo desespero apressado, e precipitado, muito evidente recentemente, em encontrar finalmente uma solução ao problema petrolífero, ao contrário do que alguns fizeram, fazem ou continuarão a fazer como se pode ver aqui (download PDF) e nalgumas notícias recentes tal como esta (BBC).

Uma resposta para“O preço da insustentabilidade”

  1. Filipe S-S

    O Insustentavel peso da consciência.
    É cada vez mais um facto incontornavel o despertar de uma consciência ambiental que emerge aqui e ali entre os dignos representantes da espécie H. sapiens. Inicialmente surge como atitude individual mas lentamente vem a concretizar-se mesmo a nível de corporações até então irredutiveis na sua postura de “lucro a qualquer preço”. Obviamente que a espécie humana na sua interacção com as outras espécies e com o meio natural constitui um sistema complexo mas que nem por isso deixa de obedecer as uns quantos principios que regem os ecossistemas. Por isso ficamos na nossa “concha” civilizacional a tentar ignorar o óbvio, mas ele já está a caminho. Fazemos exploração intensiva de outras espécies, abrimos a porta a pandemias; gastamos recursos não renováveis, o colapso energético vislumbra-se no horizonte , e muitos outros exemplos. Como população natural iremos deixar de crescer um dia, ou por falta de espaço ou por falta de recursos (alimento), ou por sermos vencidos por competidores mais aptos. Resta saber se o nosso despertar ambiental ainda permitirá recuperar o impacto que criamos, no tempo que ainda nos resta. Acreditemos que sim…

  2. Nuno Ferreira

    Infelizmente não penso que alguma coisa mude ou comece a mudar antes de algumas catástrofes mais sérias – i.e. consideradas ‘sérias’ pelos media – aconteçam no primeiro mundo.

    Enquanto forem os maremotos na Ásia, as inundações na América do Sul e a seca em África, nada fará mudar o estado de coisas. Está tudo demasiado longe de “nós” para que alguém se preocupe com o assunto.

    Mesmo o Katrina ao afectar principalmente uma zona “menos” nobre dos U.S. apenas ocupou temporariamente o lugar cimeiro nas preocupações do mundo, uns meses depois voltou tudo ao mesmo.

    E o problema do petróleo só é resolvido quando este deixar de ser um recurso importante. E isso só acontecerá quando a China começar a pagar o dobro ou o triplo pelo barril de petróleo, e este começar a escassear na Europa e principalmente nos U.S.

    Aí os governantes dos países irão finalmente virar-se para outras fontes de energia – uma vez que a China é também uma potência nuclear, e a opção militar não é viável – e quem já tiver o caminho preparado (como a Suécia por exemplo), investigação realizada, investimentos criados, vai transitar calmamente…

    Os outros irão atravessar um caos económico e sobretudo social que irá devastar os países – como nós – que teimam em continuar a pagar o preço monetário, ambiental e social da utilização do petróleo.

Deixe um comentário

Mantenha-se no tópico, seja simpático e escreva em português correcto. É permitido algum HTML básico. O seu e-mail não será publicado.

Subscreva este feed de comentários via RSS

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.