Animalistas soltam 15.000 visões americanos na Galiza

Não estava familiarizado com a palavra “animalistas”. Ao que parece, serve para designar ambientalistas na vertente radical pela causa animal, ao ponto de chegarem às quintas de peles e pura e simplesmente soltarem os animais. No blog Ambio, onde li a notícia, o destaque e a crítica vai para os animalistas que numa acção de “voluntarismo bacoco, ignorante e contraproducente” soltaram 15.000 exemplares de uma espécie exótica.
Sobre o facto de milhares desses exemplares estarem efectivamente na Galiza (e muitos outros locais) para alimentarem um comércio abjecto, absolutamente cruel e por demais documentado, nada.

Sou uma pessoa com um pensamento muito simples. Para mim é evidente que se os Mustela vision não estivessem na Galiza, fora do seu habitat em condições indescrítiveis, o problema nunca se colocaria.
Segundo o que li nos comentários, os visões de cativeiro (em jaulas onde mal se podem mexer) não sobrevivem mais que três dias. 3.000 foram logo mortos, fazendo parte de um total de 70% que as autoridades recuperaram. Entendo perfeitamente o problema das espécies invasoras, não entendo é o que preocupa o Miguel B. Araujo. Nem tenho a certeza que os activistas sejam ignorantes e ambientalmente falando, tenho visto coisas bem piores, digamos, diariamente.
Do que eu tenho a certeza absoluta é que é mais fácil o Miguel B. Araujo, ou eu, escrever calmamente num blog, do que andar pelas quintas de peles a libertar animais.
Já anteriormente nesse blogue se tinham escandalizado pelo facto da Quercus se manifestar contra as touradas, dando inclusivamente o argumento do impacto económico para as populações rurais (na vertente da conservação). Diria que no caso das quintas de peles e em praticamente tudo o resto, também existe um impacto económico importante, mas ambientalistas economicistas foi coisa que nunca vi, pelo simples facto de tal como está a sociedade ordenada, a actividade económica é quase sempre desenvolvida contra o ambiente. Não deveria ser assim, mas é.
O ambiente como caso de estudo é muito interessante, o conhecimento nunca deve andar alheado destas questões. Aliás estou em crer que a ciência é um grande aliado dos ambientalistas. O que julgo que não se pode é retirar o aspecto ético e até emocional das causas ambientais, reduzindo o ambientalista a um mero gestor de recursos em prol dos humanos. Se assim não for é mais fábrica menos fábrica, mais incêndio, menos incêndio, mais rio, menos rio.

Uma resposta para“Animalistas soltam 15.000 visões americanos na Galiza”

  1. Mário Ferreira

    Nunca gostei desses tipos. Radicais, violentos e prejudicam mais do que salvam. Sou contra a indústria das peles, até aí estamos (os que por aqui andam) todos de acordo. Mas não consigo “engulir” este tipo de acções radicais e estúpidamente selvagens. Penso que soltar os animais num ambiente estranho não lhes vai trazer grande sorte, muitos morrerão de fome e os que sobreviverem poderão vir a introduzir um novo tipo de pressão num ecossistema que esteja já debilitado.
    Concordo contigo numa coisa: os visões nunca deveriam ter chegado ás quintas da Galiza.

  2. Marlene

    Sou contra qualquer tipo de radicalismo e certamente esta não é a opção, afinal estes , como disse muito bem Mário Ferreira, vão acabar por morrer e a indústria vai acabar por repo-los com outros tantos. Vai é aumentar o número de animais sacrificados.
    Na minha opinião a indústria de peles não é o problema, mas antes as modas. Quem como eu viveu no campo sabe que há peles que são enterradas depois de se matar os animais para consumo. A minha avó ensinou-me a seca-las (as de coelho) e desde pequena que me habituei a utiliza-las. Fazia-se um bocado de tudo com elas. O problema é a moda defender que a pele de animais de espécies exoticas é que é “bom e bonito”. Apenas mais uma opinião

  3. José Rui Fernandes

    Embora não defenda actos fora da lei, o Mundo caminha para um ponto que grandes males vão necessitar de grandes remédios. Eu simpatizo com estes activistas, no sentido que os acho uma espécie de paladinos de causas perdidas.
    Veja-se no caso dos visões. Libertaram-nos, mas 3.000 foram logo dizimados, porque não passam de “propriedade” e é um prejuízo como outro qualquer. O seu valor como seres vivos é nulo. Os outros morreram de fome ou estão já num casaco de uma madame rica. Quem nunca ganha, são os visões.
    Eu seria incapaz de escrever um texto a demarcar-me destas acções, sem criticar antes e em primeiro lugar as suas causas. As invasões biológicas sempre foram inevitáveis a partir do momento que o Homem começou a circular pelo Mundo. Muitas das mais graves foram acidentais, outras por motivos económicos, julgo que uma minoria por parte das acções destes grupos. E volto a dizer que se os visões não estivessem na Galiza, nunca entrariam no seu ecossistema, por este método ou por outro. Portanto o erro é muito anterior.

    Penso que soltar os animais num ambiente estranho não lhes vai trazer grande sorte, muitos morrerão de fome e os que sobreviverem poderão vir a introduzir um novo tipo de pressão num ecossistema que esteja já debilitado.

    Se vires os videos (que não aconselho) sobre a indústria de peles que se encontram facilmente na Internet, entendes num instante que libertá-los para morrerem de fome é uma verdadeira sorte para estes pobres animais.
    De qualquer modo, acho que não é esse o objectivo, que passará mais em chamar a atenção da opinião pública para este comércio.

    Na minha opinião a indústria de peles não é o problema, mas antes as modas.

    Isso é o velho problema que ainda não consegui solucionar… Se é a procura que gera produção, ou é a produção que gera a procura. É um problema comum a praticamente todas as causas ambientais e a muitos problemas sociais, como por exemplo a prostituição.
    O mais perto de conclusão que tenho é isto: Num Mundo ideal, os indivíduos via educação recusariam sempre produtos e serviços que não estivessem dentro de determinados parâmetros da ética, delapidassem recursos necessários às gerações futuras, etc, etc.
    Vivendo numa sociedade que longe do ideal está profundamente doente, julgo que esse trabalho caberia às elites que detivessem verdadeiro poder, entre estado e privados. Por exemplo, o Eng. Belmiro de Azevedo não povoaria Portugal com lixo arquitectónico de Norte a Sul e só forneceria sacos biodegradáveis nos seus hipermercados; o governo, protegeria e preservaria as nossas riquezas naturais e nunca trocaria o curto pelo longo prazo.
    Agora pergunto eu: Onde páram as elites?

  4. Mário Ferreira

    Concordo contigo e já vi as condições em que são mantidos este tipo de animais que se destinam a abate para apenas aproveitar uma parte do animal. Lembro por exemplos os gansos que são mantidos em gaiolas e alimentados por um funil até o fígado engordar para depois fazer o “foie-gras”. Que invarialvemente vai parar à mesa de alguém…
    Repara que eu concordei contigo em como os visões não deveriam ter chegado à Galiza. Acho abjecto este tipo de negócio, necrófago e brutal, sem o mínimo de respeito pela vida. Porque é de respeitar a vida do que aqui se fala, seja de animais ou de qualquer outra entidade viva (uma floresta, p.e.). Mas permite-me discordar das acções deste tipo, existem mesmo casos em que os animalistas não tiveram pejo em matar donos ou empregados de quintas de animais, alguns grupos mais extremistas já estiveram debaixo de investigação por parte das autoridades, exactamente por causa da violência. E isso não consigo tolerar: combater a violência com violência.

    É óbvio que vivemos num mundo longe do ideal, e cada dia que passa se afasta mais desse ideal.
    Repara na vida de 90% da população: levanta-se ás 6:30 da manhã, leva os miúdos ao colégio, aguenta uma hora ou mais dentro de uma viatura (própria ou transporte público) para chegar ao trabalho, almoça a correr, recebe de hora a hora uma comunicação a dizer que os objectivos do mês estão abaixo do esperado, imagina a sua situação se o patrão decidir fechar a empresa, sai depois da hora sem receber as horas extraórdinárias que trabalhou, enfrenta novamente o trânsito, vai buscar os miúdos ao colégio, chega a casa conversa com o cônjuge, deita a criançada e depois…sonha com uma vida melhor, com um salário decente e com a certeza de que amanhã será um dia igual a tantos outros. Não lê porque não foi habituado a tal, não consome cultura porque há outras prioridades, nomeadamente casa e carro, estão endividados até mais não para comprar o último modelo de carro da marca xpto que está na berra agora. Solução: os mamarrachos do tio Belmiro. “compro, logo existo” é o lema desta sociedade onde o marketing subtil consegui convencer estas pessoas que ter é ser. E assim vão mitigando tristezas, contando o dinheiro até ao fim do mês. Agora vais convencer estas pessoas de têm que ter consciência ambiental, que não devem comprar peles, que devem reciclar, reutilizar e/ou reparar? Nem te vão ouvir, de tão iludidas que estão que este estilo de vida é uma maravilha e assim é que estão bem e a subir na escala social. E se te ouvirem é porque leram algures que o que está in é reciclar…

    Peço desde já desculpa pela extensão do comentário.

  5. José Rui Fernandes

    Não tens de pedir desculpa e entendi perfeitamente o que dizes. Sobre o estilo de vida maravilhoso, a minha próxima série de hipertexto tem uns gráficos da BBC bastante claros.

    Repara na vida de 90% da população

    Já reparei nisso há muito tempo. Não sei se é 90%, mas felizmente pertenço em grande parte aos outros 10%. O que eu gostava de saber é o que é que essas pessoas têm feito ultimamente para mudar de vida, ou se pelo menos pensam nisso. Eu penso 60 segundo por minuto, 60 minutos por hora, 24 horas por dia — e não é nada fácil.

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