Histórias de José Marques Loureiro (1)

Estufa de orquídeas
Em 1880, Marques Loureiro visitava o estabelecimento de William Bull em Londres. Ao entrar numa das estufas de orquídeas, exclamou para os amigos que os acompanhavam:
– Se Von Siebold — interrogava — se descobrira ao encontrar a Peonia ‘Gloria belgarum’, o que devo fazer em face destas maravilhas?
E tirando o chapéu ajoelhou-se.
– É mais do que fez Siebold, com efeito — observaram os amigos.
– E não lhes beijo os pés, porque me tomariam por um louco — rematou o desventurado Marques Loureiro, cheio de contentamento e entusiasmo, pelas maravilhas que nunca julgara que existissem e quase com lágrimas nos olhos por não as poder trazer todas para o seu adorado país.

É difícil imaginar o amor que estes homens tinham às plantas e às coisas da horticultura. Era uma época de descobertas constantes, novas plantas chegavam a toda a hora das colónias e de todo o Mundo. Muitas eram importadas pela sua utilidade — a casca das temíveis acácias australianas usou-se muito nos curtumes. Não sei se há mais de 100 anos já mostravam as tendências invasoras de hoje.
A erudição e os conhecimentos vastíssimos, colocavam Marques Loureiro e os seus pares, ao nível do que de melhor havia na Europa. Trocavam informações com pelo menos Espanha, França, Itália, Holanda, Bélgica, Alemanha, Inglaterra, Irlanda, EUA e Austrália. Recebiam publicações e catálogos de todos esses países, publicavam jornais, cultivavam exemplares de fazer empalidecer qualquer horticultor de hoje. Que é feito desse conhecimento? Não ficou nada!

Uma resposta para“Histórias de José Marques Loureiro (1)”

  1. Greenman

    É fantástico conhecer estas histórias de outros tempos.
    Onde é que se pode saber mais sobre este senhor.
    Ainda há pessoas assim em Portugal, não têm talvez a projecção de outrora.
    infelizmente parece que paramos no tempo. Que em Portugal não se dá valor às plantas e aos jardins.
    Não existe uma associação de Jardinagem/horticultura com a qual se possa combater as atrociades que se fazem às árvores e jardins deste país.
    Faz-me crer que seremos casos raros… ou não será assim?

    obrigado pela partilha.

    Abraço

    José Santos
    http://musgoverde.blogspot.com/

  2. Para isto é um país morto at Quinta do Sargaçal

    […] A propósito do comentário de José Santos sobre Marques Loureiro, convém esclarecer que aparentemente Portugal sempre teve uma capacidade fora de comum para esquecer os seus melhores e na verdade a horticultura já nos tempos do grande horticultor não era tida em grande conta. Cito de memória Duarte de Oliveira a propósito de uma exposição de pêras e pereiras em Paris, por volta de 1904, que dizia “para isto Portugal é um país morto”. Referia-se à horticultura. Já no blogue Dias Com Árvores pode ler-se que “Quando José Duarte de Oliveira se apagou já os tempos áureos da horticultura portuense pertenciam ao passado; tais estrangeirismos nunca se tinham verdadeiramente enraízado na vida da cidade, tanto na classe abastada como na popular. Duarte de Oliveira era obviamente um estrangeirado, um conhecedor de línguas (francês, inglês e alemão) que muito viajou por toda a Europa; como, além de tudo o mais, foi um comerciante rico, O Tripeiro, no obituário que lhe dedicou, pôde usar termos elogiosos, descrevendo-o como «negociante honrado», mas ignorando o Jornal de Horticultura Prática, e referindo apenas de passagem, em tom de quem desculpa uma excentricidade, a paixão de Duarte de Oliveira pelas flores. Assim se escreve a biografia de um homem: apagando o que ela tem de mais notável como se de uma frivolidade juvenil se tratasse”. Por fim, é justo referir a propósito dos estrangeirismos, que pelas minhas deambulações nos livros antigos, Allen, Burmester, Tait, Van Zeller, Moller, Merle, Nardy e tantos outros são nomes comuns. Famílias abastadas, não só do Porto (Nardy père cultivava 1.500ha no Sado), que muito contribuiram, se é que não foram mesmo fundamentais, para aqueles tempos áureos da horticultura portuense e do país, que aparentemente como diz Paulo Araújo, nunca se enraizaram verdadeiramente na vida da cidade e acrescento, deste povo. […]

  3. Maria

    Se me permite a questão, de onde retirou exactamente o texto sobre a visita e exclamações de Jose Marques Loureiro? De algum catálogo do próprio autor?

  4. José Rui

    De facto devia ter colocado aqui na altura certa… agora não sei exactamente. Ou foi do Jornal de Horticultura Prática ou do Jornal Horticolo-Agricola (mais provável).

  5. João Felgar

    Caro amigo Jose Marques Loureiro

    O nome Belgarum deve lhe fascínar de algo modo e talvez nao entenda o porquê, é como admirar as orquídeas, a horticultura e nao entender o porquê de ter esse gosto.

    O termo Belgarum ou Felgarum ou Velgarum é tudo igual, é um sobrenome, tente descobrir de quem é e só lhe posso afiançar que a familia Loureiro teve ligação a essa familia, muitas das vezes, surgem coisas na vida que temos admiração e outras vezes repulsa.

    Belgarum manes Primceps,bello am pace utaris; ubique potés, qui Orientis & Occidentis termimos circumduéla gloria tenes ; alibi dominus, hic pater ; alibi feeptro, hic affeftu imperams. INimirum, alia Felgarum, alia aliorum comditio et.

    E existem mais registos em latim deste nome e da ligação às flores de Amesterdão, Bélgica e Áustria.

    Tenho que ir investigar, quem foram os Belgarum ou Belgar ou Felgarum ou Velgarum ou Velgar, existindo documentos em latim.

    Na Republica contam se muitas mentiras

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