O pessimista vs. os tecno-optimistas: Um guia para os perplexos
Quando escrevi o comentário sobre os transgénicos publicado no Abrupto, apercebi-me posteriormente que à semelhança de tantas outras, esta é uma discussão que ameaça eternizar-se. Para cada agricultor arruinado pela Monsanto, há algures na Índia uma família que com os lucros dos seus campos transgénicos, vive feliz e contente.
No fim, mais parecer técnico, menos parecer técnico, a decisão é fundamentalmente política. É mais uma decisão sobre o tão falado modelo de desenvolvimento e em última análise o tipo de sociedade em que queremos viver. Entre o meu pessimismo e os seres maravilhosos do admirável Mundo novo, os tecno-optimistas.
Os tecno-optimistas consideram que não há recurso comparável ao génio humano. A terra, a água, as florestas, os minerais, os combustíveis fósseis, a fauna, a flora e toda a energia do Sol empalidecem perante a criatividade humana. Acreditam que a tecnologia cria novos recursos que se manterão a par com o crescimento da população. Quando a escassez e a poluição se tornarem insuportáveis, novas soluções serão encontradas por mentes criativas motivadas pelas enormes riquezas que a economia de mercado será capaz de lhes proporcionar. Não precisamos de conservar recursos para o futuro pela simples razão de as gerações futuras não os necessitarem. À escassez, responde-se com substitutos. Para eles, a água potável a correr livrementes em rios e ribeiros, não poderia ser menos importante. Tecnologias de dessalinização, estações de filtragem e filtros pessoais, providenciarão no futuro toda a água que necessitaremos. Os tecno-optimistas também acreditam que a tecnologia, se necessário, limpará o ambiente. Por exemplo, com as novas lâmpadas energeticamente eficientes, ou os transgénicos que evitam a utilização de insecticidas prejudiciais.
Ao pessimista, preocupa-o que certas tecnologias criem riscos inaceitáveis. Para já apenas temos um planeta, apenas um laboratório, é fundamental que as experiências corram bem.
O pessimista acha e tem observado, que muitas das novas tecnologias criam mais problemas do que aqueles que resolvem e a humanidade corre o risco de ficar aprisionada num ciclo em que serão sempre necessárias novas tecnologias para resolver os problemas das anteriores. Por cada avanço tecnológico, há um recuo social, onde a estrutura tende a ser cada vez mais complexa e com menos retorno. Os lucros gerados pelos combustíveis fósseis e pelos computadores, já foram em grande medida captados. Para avanços similares serão necessárias doses colossais de investimento. Os ganhos com os novos avanços na agricultura, medicina e ciência têm vindo a declinar no último século, enquanto os custos para produzir cada novo avanço têm subido constantemente1.
O pessimista muitas vezes acha que a tecnologia restringe a nossa visão a soluções que já dominamos. Se a única ferramenta que temos é um martelo, tudo passa a ser prego. Inúmeros exemplos deste problema existem ao nível da gestão ambiental. Se sabemos que o milho transgénico evita o ataque da broca do milho, então os transgénicos são o nosso martelo e continuaremos a desenvolver mais e mais variedades de milho transgénico. Mesmo que a gestão integrada de pestes e a agricultura biológica se tornem num meio mais barato e eficaz de cultivar milho, essas soluções serão ignoradas porque não se encaixam na forma de pensar sobre o problema.
O pessimista acha que os recursos energéticos são limitados e promove soluções técnicas que diminuem o consumo energético. Os tecno-optimistas preferem aumentar a oferta com recurso ao que estiver disponível, seja carvão, energia nuclear ou soluções de energia verde. O pessimista acha que tecnologias novas como os transgénicos não estão prontas para sair dos laboratórios e não devem andar ao ritmo da sociedade de hoje e muito menos ao ritmo das apresentações trimestrais de resultados das empresas de biotecnologia. Os tecno-optimistas acham que este princípio de precaução para mais não serve do que atrasar o desenvolvimento e o despontar de um futuro radioso. Eventuais problemas serão resolvidos caso a caso e conforme forem aparecendo.
O pessimista sou eu e dificilmente me apanharão a consumir transgénicos por minha livre e espontânea vontade.
1 Allen, Tainter e Hoeskstra (2003, Capítulo 2) Estudos sumarizados que documentam como os ganhos dos avanços tecnológicos na agricultura, medicina e ciência têm na generalidade declinado enquanto os custos têm subido.
Referência:
Hull, Bruce R. 2006 Infinite Nature, The University of Chicago Press, Chicago.
Uma resposta para“O pessimista vs. os tecno-optimistas: Um guia para os perplexos”
Apesar de me vacilar entre os pessimistas e os optimistas tenho de notar que o comentário não responde (ou faz seguimento) do colocado como resposta no Abrupto. Para tal acontecer faltam os factos e exemplos que fundamentam e respondem às questões colocadas, nomeadamente relativamente ao uso reforçado de pesticidas nas culturas de transgénicos. Se se afirma, que se prove.
Caro Ricardo Reis, não responde porque não era resposta. A resposta transcrevo em baixo e não foi compreensivelmente publicada porque o Abrupto tem pouca vocação para este tipo de comentário.
De qualquer modo não provo nada e vou já poupar-vos a uma série de comentários — Não investiguei, não fumiguei, não deixei de fumigar, não cultivei nada em explorações enormes, nunca vi sementes BT e muito menos campos BT, não vi agricultores arruinados nem a suicidar-se, não constatei em primeira mão que as sementes custam o dobro das convencionais, em resumo, não estive lá.
A única coisa que sei em primeira mão é que em quatro anos que cultivo para comer e nunca precisei nem transgénicos, nem de químicos. A escala é pequena, não tento provar nada com esta afirmação.
Aproveito para dizer também que não foi a Monsanto que desenvolveu o “terminator”, mas sim outra empresa entretanto adquirida.
A resposta:
A grande falha do argumento foi ter cortado nos cantos e ser difícil falar sobre este assunto em poucas linhas (e mesmo assim usei muitas).
Tanto quanto julgo saber, os efeitos de resistência foram observados nos EUA, onde a cultura se efectua há mais tempo. O “rapidamente” não é relativamente ao tempo de um spot publicitário ou “soundbytes” do telejornal da sociedade de hoje. É rapidamente em termos naturais — ou seja, em poucos anos.
Eu não sei o que os agricultores fazem posteriormente — fumigam nesse ano para salvar a colheita numa atitude eminentemente prática que está na personalidade dos americanos. Mesmo muitos agricultores biológicos preferem pulverizar e salvar as colheitas perdendo a certificação, do que perder tudo (do livro “5 Acres of Independence”, se não me engano). Na Índia a publicidade da Monsanto diz que o algodão BT usa até 25% menos de pesticidas.
Também umas sementes são estéreis, outras não. Mas pelo que entendi até agora, devido à propriedade intelectual, só podem ser usadas sementes adquiridas às empresas. As outras são consideradas “piratas” e na América do Sul já constituem 30% do mercado — mais um dado sobre o total descontrole que é isto dos transgénicos. A Monsanto com 70 a 100% do mercado de algumas variedades, é a que mais activamente persegue os agentes do mercado “pirata”.
Tem razão, o “mais forte”, pode ser “diferente” não necessariamente mais forte, mas a questão era mais entre as promessas dos transgénicos BT e a realidade. Inferir das falhas do meu comentário que as empresas iam à falência é colocar a carroça muito à frente dos bovinos. Só aflorei a rama do arsenal da Monsanto. Por exemplo, pode-se verificar que esta empresa já é a maior do Mundo também nas sementes convencionais (este texto ajuda a compreender o mecanismo do negócio das sementes e porque interessa às biotech e agroquímicas).
Também, não vivem só de um tipo de transgénicos — veja-se a maravilha do marketing e da técnica que são as plantas Roundup Ready®. O Roundup (glifosato) é um conhecido herbicida da mesma empresa também à venda nos nossos supermercados em práticos pulverizadores. As plantas da Monsanto que ostentam o slogan Roundup Ready® resistem ao herbicida — eles vendem as sementes e vendem o herbicida que pode e é usado copiosamente nos campos. Não consta que esteja a ser uma coisa boa para a biodiversidade.
Não me parece que as empresas de biotecnologia, designadamente a Monsanto, vão à falência assim com essa facilidade toda. Quem faliu e se suicidou às centenas ou milhares, foram uns agricultores lá para a Índia, acho que o Vasco da Gama passou por lá aqui há uns tempos (New York Times).
De qualquer modo, nem sei para que se está a discutir isto: 1,7 milhões de hectares em 1996, 44,2 milhões de hectares em 2000 (IUPAC) e diz-se 100 milhões de hectares hoje em dia. Acho que está tudo discutido. A minha previsão é que terras e alimentos livres de transgénicos vão valer dinheiro no futuro. Com folclore ou sem folclore.
Eu, quando discuto tópicos científicos, só me interesso por duas coisas: factos e argumentos lógicos. O seu leitor Ricardo Reis observou que o seu texto não responde (ou faz seguimento) ao argumento que enviei para o Abrupto. A sua reacção foi afirmar que «[a] grande falha do argumento foi ter cortado nos cantos». Não faço ideia do que isto quer dizer. Só consigo constatar que preferiu publicar aqui dois textos muito palavrosos e que, por muito que isto lhe desagrade, não revelam qualquer falha no argumento que apresentei. A sua estratégia retórica vem na linha da frase de André Lwoff: «Rigor e clareza são coisas pouco frequentes em certas disciplinas onde a falta de ideias originais está disfarçada por um vocabulário hermético, afogada numa linguagem esotérica e escondida sob uma espessa camada de palavras.»
Quando tiver algum facto e/ou algum argumento para apresentar, escreva-me. Sou fácil de localizar; basta fazer uma busca pelo meu nome no Google.
Porque haveria de fazer isso? Não me deixou um mail correcto, condição para comentar (embora não necessariamente válido)? Eu acho sempre muita piada a toda a gente. Se fazia questão de dizer quem é, porque simplesmente não o disse?
Como não deve ser o jogador de futebol, suponho que seja o professor José Carlos Santos.
O senhor professor não entendeu. A resposta que enviei para o Abrupto (não publicada) foi esta dos comentários, não foi reacção ao Ricardo Reis — ainda para mais só detectei na mesma altura que o Dr. Pacheco Pereira optou por linkar. O outro texto, resume a minha posição sobre o assunto transgénicos, como disse, não faz seguimento porque não era resposta directa ao seu comentário.
Esse texto, apesar de palavroso (sem dúvida fastidioso), não chegou para o senhor professor entender que passei a considerar o problema político, não científico. Nesse sentido não sei para que me pede factos/argumentos científicos. Mas já agora digo-lhe outra coisa que aprendi — até na ciência nem tudo é lógico. O que é lógico para uns, é a maior barbaridade para outros. E relativamente aos factos, pelo que tenho observado nos dias de hoje, desejo-lhe muito boa sorte.
Passando à falta de lógica do meu argumento, também acho que respondi, mas sendo igualmente palavroso (fastidioso), o senhor professor nem leu. Portanto,
A isto respondi dando-lhe razão — “Tem razão, o “mais forte”, pode ser “diferente” não necessariamente mais forte, mas a questão era mais entre as promessas dos transgénicos BT e a realidade.”
A isto também já respondi — “Eu não sei o que os agricultores fazem posteriormente — fumigam nesse ano para salvar a colheita numa atitude eminentemente prática”.
O que eu não comentei foi a simplicidade com que o sistema de mercado do senhor professor funciona. Não me diga que cortou nos cantos (para manter o comentário pequeno)? Quer dizer, uma empresa digamos, do tamanho da Monsanto, Syngenta, Bayer…, vai à falência porque arruinou uns agricultores e/ou os seus produtos não ficaram à altura das expectativas? Também gostava de viver nesse admirável Mundo novo.
Já não acho muito bem que a pretexto de meter uma citação o senhor professor venha falar de uma “estratégia retórica”. Não uso. A falta de rigor, apesar de escrever praticamente tudo de cabeça, não aceito. A falta de clareza é obviamente um defeito meu, mas a clareza também se aprende. O resto é retórica sua com autoria de outro, não interessa para nada — a menos que logicamente aponte nos meus palavrosos textos onde anda “a falta de ideias originais”, o “disfarce”, “vocabulário hermético”, o “afogamento”, a “linguagem esotérica” e “uma espessa camada de palavras” — esta última escusa de apontar, já entendi, aliás repete-se.
Enfim, não me desagrada nada que tenha comentado argumentando com lógica. Pelo contrário, deu-me uma oportunidade de lhe dar razão e acrescentar mais alguns dados que entretanto me lembrei (e corrigir outros). E pelo que entendi, no essencial concorda com o que fui dizendo.
Não leve a mal o facto de eu achar que fica perplexo com pouco. Toda a gente fica perplexa com pouco. Eu por exemplo, fico perplexo como noutros fóruns ainda ninguém respondeu a uma questão muito simples — para que servem os transgénicos e quem precisa deles. É outra conversa.
Começa por apresentar a argumentação como científica, quando confrontado com uma contradição lógica usa muitas, muitas palavras para dizer que afinal a questão é política, sem responder às objecçções levantadas. Há um nomes para isto: demagogia e aldrabice!
A algaraviada pseudo-científica serve só para se dar ares de conhecedor e tentar com isso evitar qualquer contraditório, como se fossem válidos argumentos de autoridade do tipo “eu é que sei”.
Mas também é preocupante que a “aldrabice científica” (por contra-posição a “divulgação científica) apareça, pelo menos até ser confrontado e ter de se “destapar”, para supostamente suportar a forma como vê a questão: é política. Então porque não assume desde o início que a sua visão da questão, os seus argumentos são políticos??? É a mesma atittude de astrólgos, bruxas e outros aldabrões que tais, que tentam sempre, com algaraviada sem sentido de aparência científica, passar a ideia de que a sua aldrabice tem qualquer fundamento científico. Como o objectivo desses aldabrões é controlarem as pessoas, levando-as a não questionarem o que quer que seja, como no seu ponto de vista a questão é política e pela sua atitude quer que seja inquestionável, o resultado só poderá ser a ditadura da aldrabice do politicamente correcto. Ainda por cima é um modelo de comportamento que se repete frequentemente naqueles que têm exactamente a mesma opinião.
Preocupante!
Gostava apenas de apresentar ao Sr. José Carlos Santos um video que talvez lhe mostre uns factos acerca dos problemas dos OGM’s, neste caso as sementes de algodão Bollgard da Monsanto.
Caro Vítor Vajão, as suas sagazes observações já foram respondidas ao senhor professor José Carlos Santos, umas linhas acima. Respondi aos seus argumentos lógicos nos comentários deste texto, logo depois do comentário do Ricardo Reis. De resto, acrescentei uns dados e corrigi outros — é óbvio que tentei evitar o contraditório, mantendo a discussão aberta até para comentários como o seu, que nada acrescentam.
Porque haveria de fazê-lo, se não é verdade? — o que eu escrevi (vá ler se faz favor) é que a decisão é fundamentalmente política e nesse sentido passei a considerar o problema político. O último comentário meu que está no Abrupto, é o que lá está — pode indicar a pseudo-ciência? O senhor além de chamar nomes é que parece que não tem grandes argumentos, nem para discutir os transgénicos, nem para uma conversa minimamente civilizada.
E relativamente a este ponto, veja se percebe isto: Não aceito que a pretexto de me chamar nomes, venha aqui colocar um pseudo-comentário que em nada contribui para a discussão. O próximo deste teor apago, com a garantia que o apago muito mais rápido do que o senhor escreve. Portanto, nem perca tempo.
O documentário responde às questões do senhor professor José Carlos Santos. Pelos vistos têm que pulverizar mais forte, a colheita fica aquém das expectativas e no fim, escolhem algodão normal e de resto o algodão BT foi banido pelo governo.
Fiquei perplexo — a Monsanto não faliu.
Eu acho simplesmente impressionante como está a ser tratado o caso da destruição de 1 hectare de milho transgénico em Silves, colocando o agricultor na posição do coitadinho que vai à falência e não pode alimentar a familia, quando este tem um terreno de 51 hectares de milho plantado e apenas 1 foi destruído.
Depois há o facto que parece que ninguém quer falar que é o de os activistas terem oferecido ao agricultor milho biológico suficiente para cultivar os 51 hectares e oferecendo-se também para a necessária mão de obra.
Apenas se fala que é invasão de propriedade privada, eco-terrorismo, vandalismo, etc, e esquecendo-se que foi uma acção simbólica para chamar a atenção do problema dos transgénicos.
Quem é que julga as grandes multinacionais se, digamos, daqui a uns anos começarem a surgir danos que se provem ser causados por OGM’s e tenham efeitos negativos irreversíveis, como bastantes vezes acontece com as farmacêuticas que colocam medicamentos à venda e depois de estes renderem milhões, descobre-se que afinal fazer mais mal do que bem.
Nessa altura já o mal estará feito e não vai haver meio de voltar atrás para reparar o dano.
Como cidadão, trabalhador e pagador de impostos, tenho o direito de saber aquilo que estou a comer e por mais atenção que se tenha em olhar para os rótulos (coisa que faço), grande parte das vezes é impossível saber a origem dos alimentos e no caso de quem consome carne ou peixe (quando provém de aquacultura) nunca é dito o tipo de alimentação do animal.
Não podemos deixar que brinquem com a nossa saúde.
Eu acho que uma coisa não implica a outra, nem que fosse 1m2. E as considerações sobre o agricultor de parte a parte, não acrescentam nada. Para já ainda há leis.
Mas sou sensível ao facto de por algum motivo, as grandes empresas conseguirem sempre contornar tudo, como quem anda à chuva sem se molhar.
Isso de oferecerem milho depois de destruirem… Enfim. Naquele contexto é uma provocação. Se tivessem muita vontade de cultivar alguma coisa, cultivavam — não é necessário folclore.
Também concordo que se tentou fazer deste acontecimento algo que ele não foi. Os anti-ambiente fizeram uma autêntica festa, mas suponho que isso faça parte do jogo e os “activistas” deviam ter contabilizado os prejuízos que iriam trazer à causa.
No Abrupto, julgo que toda esse problemática foi abordada. Na minha opinião, não com imparcialidade (não existe), mas equilíbrio.
De qualquer modo, tenho de dar o braço a torcer num ponto — eco-terrorismo, ilegalidade, acção simbólica ou o que lhe quiserem chamar, deu alguma visibilidade ao problema. Continuo a não apoiar o acto, mas reconheço isso.
“No fim, mais parecer técnico, menos parecer técnico, a decisão é fundamentalmente política.”
É raro, mas concordo inteiramente com JRF!
Tecnicamente, pelo que vou lendo aqui e ali, não parece haver problemas de maior (excepto polinização cruzada que procura ser minimizada por via legislativa com distâncias de segurança, etc).
Politicamente, ou abrimos o mercado a esta nova tecnologia ou sujeitamo-nos às consequências económicas da concorrência. Optámos pela primeira, tentando garantir a manutenção pelo menos parcial das condições anteriores à nova tecnologia para quem o desejar.
Temos de deixar aos agricultores a opção de gestão do risco. Por mais analfabetos que alguns sejam, sabem de certeza contar o dinheiro com que ficam ao final do “ano agrícola” e mover-se no mercado conforme os sinais que recebem do Estado, do Mercado e dos outros agricultores.
PS -De qualquer modo, se os agricultores com menor educação pudessem ter aulas de Contabilidade Analítica , e Ambiente, era capaz de ser extremamente vantajoso.
Esta deve estar armadilhada! :)
Então não há problemas de maior? Eu vi logo.
Polinização cruzada, só esta dava para banir o produtos do mercado pelos menos um século!
Resistência das pragas às toxinas BT , super-pragas (desbaratar uma toxina essencial na natureza).
Prejuízo para espécies fora das espécies-alvo.
Resistência das ervas aos herbicidas, super-ervas (no conjunto roundup roundup ready®).
Prejuízo para espécies que predam os alvos e não-alvos.
Toxinas acumuladas subindo a cadeia alimentar (exemplo dos afídios para as joaninhas).
Riscos ainda não entendidos para a saúde humana e animal.
…isto sem consulta.
Não é líquido que as colheitas sejam melhores ou de acordo com as expectativas. No documentário aqui colocado, isso está demonstrado de forma dramática. Mas tem acontecido nos EUA (e em certos estados centrais, as sementes convencionais estão difíceis de encontrar…). Não querendo repetir o argumento (depois dizem que não tenho ideias originais), quando os agricultores chegam às suas conclusões, já o mal está feito.
Aliás parte da explicação é simples: Os transgénicos substituem genericamente plantas, a Norte, a Sul, várias condições de solo, meteorológicas… As plantas substituidas, através da tal selecção de gerações estão perfeitamente adaptadas à sua região.
Basta o tempo sair um pouco do figurino e a colheita dos transgénicos sofre imediatamente.
Leia o Seeds of Doubt. Gostava de ler a sua análise “picuinhas” do livro. Veja se encontra muito por onde pegar — depois discutimos isso.
O económico. Como pode reduzir um problema destes a um risco económico?
A questão da competividade é uma treta colossal. A agricultura anda subsidiada em todo o lado e o mercado está completamente adulterado. Os americanos não deixam essas questões ao sábio julgamento do “mercado” — trabalham activamente e colocam o seu substancial peso e volume em cima da mesa quando se trata de falar dos interesses deles. E os interesses deles, neste caso, são os interesses da Monsanto. Que mercado é este?
Na Alemanha dos anos 30-40, os agricultores tinham aulas de contabilidade e de gestão — tarefa atribuida às mulheres. Também havia uma preocupação ambiental se calhar não menos que hoje (à luz dos conhecimentos da época).
Olhe uma coisa, responda a isto que é tão simples e ainda ninguém respondeu: Para que servem os transgénicos e quem precisa deles?
Sou absolutamente contra qualquer forma de violência.Por isso condeno este tipo de acção ocorrido em Silves.
Mas tenho o direito e a liberdade de saber o que como e de escolher se quero ou não ingerir produtos trangénicos. Essa informação é dada de forma manifestamente insuficiente e em muitos casos omitida de forma escandalosa como é o caso da carne que consumimos. Estas culturas contaminam as outras,ao que parece,de forma irreversivel .Cedendo ás multinacionais a UE aprovou recentemente, com o apoio do governo Português, a possibilidade de contaminação de produtos de agricultura biológica por trangénicos. Isto é escandaloso,nada é preservado. Quem quer consumir tem o direito de o fazer mas não pode obrigar os outros a fazê-lo. Como está a acontecer. Existe um estudo feito na UE que comprova que 85% dos Europeus são contra a utilização e consumo destes produtos. Existem, em Portugal e na Europa, municípios e zonas que se declaram livres de trangénicos pois têm consciência que isso é uma mais valia para os seus produtos. Em Portugal o governo permite e incentiva esse tipo de agricultura em zonas em que os municípios tomaram essa decisão não os respeitando nem ás suas populações.
Existem muitas formas de violência, as desta acção,que condenamos, mas também outras muito mais perigosas e subtis que nos obrigam, por interesses que desconhecemos,ou não,a consumir o que não queremos, a fazer o que não desejamos e que desrespeitam o interesse das maiorias em favor numero restrito de pessoas que apenas por interesses económicos nos querem impor as suas regras e pontos de vista por vezes bem camuflados.
Dizer que este tipo de agricultura vem ajudar a resolver o problema da fome no mundo é de uma (pseudo) ingenuidade que me escuso de comentar.
Eu só quero ter liberdade,não prejudicando os outros, e não existe nada mais violento que a supressão dessa mesma liberdade. Eu só quero ter a liberdade de, neste como noutros casos, poder escolher.
Porque é que nos querem impor os trangénicos?
Vasco garcez
Vasco Garcez:
Transgénicos na carne que consumimos? Onde?
Que eu saiba muito, muito dificilmente, uma proteína ou uma hélice de DNA consegue sobreveiver aos ácidos estomacais e conseguir ainda passar o tracto intestinal para dentro do organismo! Mesmo na questão dos priões (BSE) é muito pouco provável que a versão humana (Creutzfeld Jacob) seja derivada directamente dos priões das vacas!
Contaminação irreversível? Como?
Se uma planta tiver genes “múltiplos” ou seja um cromossoma com o gene transgénico e o cromossoma homólogo a possibilidade de os transmitir a outra planta sem OGM é de apenas 50%. Mas, o mais simples, é usar sementes que, garantidamente, não tenham genes transgénicos na próxima plantação!
O governo permite e incentiva o uso de OGMs?
Que permite não haja dúvidas. Mas tem a certeza que incentiva? Há alguns subsídios EXTRA para milho transgénico que não haja para o milho “convencional”? Se calhar é capaz de haver incentivos extra para o milho biológico. Não sei.
JRF:
Para que servem os transgénicos e quem precisa deles?
Sugiro o reencaminhamento desta pergunta para os empresários agricultores :)
O Vasco Garcez toca num dos pontos políticos que para mim é absolutamente inaceitável — a possibilidade de contaminação de outras culturas e ecossistemas. Parece que é indiscutível.
Como é que é possivel permitir a existência destes produtos que tão ostensivamente tolhem os direitos dos outros.
É muito lindo defender este tipo de políticas, desde que os direitos a cair não sejam os nossos.
Quanto aos subsídios, não sei como isso anda. Para mim acabavam e as pessoas tinham de pagar o que os alimentos custam — se algumas não puderem, os geniais políticos arranjam solução.
Mas, por exemplo, sendo a agricultura a grande responsável mundial pela poluição da água e sendo a agricultura biológica praticamente limpa nesse sentido, não é difícil de ver quem deveria de ser mais subsidiado e por outro lado quem deveria ser mais penalizado.
Ah, eu sei a resposta. E se reencaminhasse para a Monsanto? Eles devem ter a resposta na ponta da língua.
Mas não é fácil esboçar uma defesa dos transgénicos e responder à pergunta.
Osvaldo Lucas:
Grande parte da carne que consumimos é alimentada com produtos provenientes de OGM. O que eu quero e exijo e acho que tenho esse direito é que me informem do que estou a comer. Eu tenho o direito de não dar o meu dinheiro a empresas que usam este tipo de tecnologia.De não fomentar esta actividade.
Porque é que as empresas que utilizam OGM têm tanta dificuldade em assumi-lo e em rotular as embalagens? Porque é que actuam quase clandestinamente? E porque é que com agricultura biológica e até integrada se passa precisamente o contrário?
A questão da contaminação é baseada em tetemunhos reais e científicos que tenho lido e analisado e para mim é a questão mais importante pois põe em causa a liberdade dos outros. Isto é indefensável e ninguém tem o direito de contaminar o cultivo do vizinho e obriga-lo a produzir o que não quer. Assim como ninguém tem o direito de me obrigar a consumir OGMs. Assim como não quero que os meus filhos fiquem dependentes num futuro próximo dessa instituição chamada Monsanto.
Os incentivos não são só em dinheiro. Quando um Ministro da Agricultura vota favoravelmente a permissão da contaminação da agricultura biológica com trangénicos, incentiva. Quando vem para as televisões defender deliberadamente esta actividade,não contribuindo em nada para o debate ou esclarecimento, incentiva. Quando vai contra a vontade das populações e seus representantes que não querem esta vizinhança, incentiva.Quando apoia esta semi-clandestinidade de não dizer onde estão as culturas (como fez este ano) e a inexistência de uma rotulagem bem explicita,incentiva…
Ninguém obriga ninguém a gostar ou a consumir produtos de agricultura biológica, nunca nenhum campo de agricultura biológica prejudicou um campo de OGM.Por isso não nos queiram obrigar a consumir OGM á força. È disso que se trata.
Não tenho formação nesta área,não sou um activista anti-OGM,não sou agricultor nem trabalho com nada que tenha a ver com esta actividade, sou só consumidor e cidadão( o que nos tempos que correm não é fácil), mas existe uma coisa chamada bom senso e é só isso que peço, bom senso.
Já agora um conselho,se me permite e sem ofensa: Atreva-se a comer produtos biológicos, vai ver que não são assim tão caros( os cogumelos e a rúcula por exemplo são bem mais baratos que os outros) se os comprar nos sítios certos (biocoop,Miosótis,mercado do p. Real etc,se for de Lisboa)vai ver que nunca mais come uma alface ou morangos de agricultura normal.Vai ver que a carne e os yogurts têm outro sabor e que se vai sentir bem por saber que,apesar de uma forma insignificante, está a contribuir para o bem do planeta e de uma actividade económica, próspera e viável.
A contaminação é recíproca! E existe obviamente entre as várias variedades de milho convencional!
Mas existem as tais distãncias de segurança para garantir que a contaminação, se ocorrer, mantém-se em limites aceitáveis. Como é evidente, é impossível viver num mundo sem contaminações.
Podemos no entanto imaginar que o milho transgénico se “solte” na natureza. Que eu saiba o milho, a existir naturalmente é em quantidades muito reduzidas. Nunca encontrei plantas de milho digamos a 10m de um campo pré-lavrado e semeado com bagos. Não creio que possa ter qualquer impacto sobre os ecossistemas, embora admita que desrespeito pelas regras de distãncias de segurança contaminem, em termos de mistura genética, eventualmente de modo significativo, as filas exteriores de um campo de milho convencional ou de agricultura biológica.
A questão da carne de vaca não transgénica mas alimentada com transgénicos:
– É idêntica à alimentada com milho normal
– A única solução para não apoiar as Monsantos e Cªs é comprar carne certificada como produzida a partir de não OGMs. Cá está mais um nicho de mercado que não existiria (será que já existe?) se não houvesse OGMs :)
Ah, e acho bem que batam no Governo! Ou melhor, nos serviços de agricultura! E nas “centrais de informação” ao público. Sobre este assunto e todos os outros.
Vasco, seria possível indicar o estudo que indica que 85% dos Europeus não querem transgénicos? E seria interessante também saber quantos europeus é que sabem o que são transgénicos, quais os problemas que lhes são atribuídos e quais as respostas para estes problemas ou eventual refutação como “não problemas”.
O Estado tem disponível um estudo, ou melhor um parecer do CNADS
http://www.cnads.pt/docs/ParecerOGM Dezemb2000.pdf
mas como ainda ninguém se tinha lembrado de destruir plantações de milho devia andar meio escondido :)
Por outro lado, a STOPOGM tem toneladas de informação, mas, devo estar a pecar por defeito, 80% desta francamente tendenciosa.
Sobre sabores, acredito sinceramente que tenha razão.
A questão do JFR sobre a poluição da água é muito pertinente. Merece um novo post individualizado.
Esta é peregrina. Aqui na refinaria da Galp em Leça da Palmeira, havia uns pinheiros a contaminá-la. Agora é só o mar, a contaminar reciprocamente, cada vez que há descargas.
Volto dia 8 ou 9 de Setembro e responderei.
Osvaldo
peço desculpa de só agora responder. Aqui vai o estudo. Eurobaro?metro 55.2 Europeans, Science & Technology
pagina 40
Caro Osvaldo, dizia eu, que essa da contaminação recíproca, aceito como brincadeira, não como argumento. Porque senão, então tudo é argumento e eu nessa base, prefiro estar calado.
Já li não sei onde que no México já se soltou.
Cá não vê milho como invasor, porque o milho não é de cá e não se naturalizou. Aliás, em termos agrícolas, desconheço invasores — e se o fossem, resolveriam algum do problema económico do país (colheitas grátis).
No entanto aqui há uns tempos, na discussão de invasores, fiquei muito surpreendido com o tomate ‘alicante’ estar referênciado como invasor na Polónia. Tenho cá e nunca vi nada, mas também não é por isso que coloco em causa as conclusões das autoridades polacas.
Isso é de facto muito evidente. O que já não é tão evidente é a razão de se não se evitarem algumas contaminações facilmente evitáveis. Também não acho muito evidente, e lá está, ninguém explica, porque se há-de aceitar esta contaminação em particular. Os chineses (e não só) também querem fabricar produtos com elevado teor de chumbo e ao que consta, isso cai mal na sociedade.
Eu acho que é uma questão em aberto e de conclusões porventura longínquas para serem práticas (ou melhor são práticas, mas só para um lado). Apesar disso, considero um assunto um tanto ou quanto lateral, porque já avançou uns não sei quantos passos sobre o assunto central, o que é aliás o objectivo de empresas como a Monsanto. O milho existe e tem que servir para alguma coisa. Se é para o gado ou para pipocas, não interessa. O que interessa é fixar firmemente o pé na porta.
Quando a Monsanto lançar os seus morangos com “verdadeiro sabor a morango”, aqui o Osvaldo também se converte aos transgénicos na questão dos sabores.
As estatísticas contra os transgénicos são bastante conhecidas e não servem para nada porque vão contra os interesses do momento dos governos nacionais e UE. Aliás essa grande entidade que é a opinião pública, além de manipulações várias, vai servindo para muito pouco. E quando serve veja-se o resultado — por exemplo do destino de vários assuntos que a sociedade civil leva ao parlamento por força de lei e assinaturas –, se não fosse trágico eu ria-me.
Também me diverte o facto de lhe surgir a preocupação da erudição europeia sobre os transgénicos. Já reparou que as suas opiniões e os seus argumentos estão totalmente subjugados ao paradigma social dominante? Não é só amor à ciência e ao mercado, porque eu também gosto muito da ciência e do mercado qb. Liberte-se disso e tente colocar-se do outro lado (se possível em vários lados).
Também venho manifestar a minha perplexidade pelos argumentos que têm sido utilizados por todos quantos são afectos à causa OGM. Parece que agora toda a gente tem que ter opinião sobre a legitimidade ou a legalidade da acção de Silves! Meus, senhores, toda a gente fala que vivemos num estado de direito. Então lembrem-se que, num estado de direito, estas questões são dirimidas em tribunal e não julgadas em praça pública. Deixemos as leis para quem delas entende e aproveitemos para discutir o que verdadeiramente interessa: é legítimo transformar a Terra num imenso laboratório de experiências? Teremos a memória tão curta que não nos lembremos da quantidade de medicamentos, pesticidas, etc que foram lançados no mercado como produtos altamente eficazes e seguros e que provaram só posteriormente a sua nocividade?
Esta acção de Silves – independentemente do que pensemos sobre ela – deu-nos a oportunidade de discutir publicamente este assunto que interessa a todos nós, porque todos somos habitantes deste planeta e co-responsáveis pela herança que deixarmos. Eu recuso-me a dar carta branca à classe política para tomar esse tipo de decisões por mim. Seria até interessante que os partidos políticos manifestassem nos respectivos programas a sua posição relativamente a este assunto que é, de longe, mais importante do que o aumento ou redução de impostos.
Relativamente ao agricultor, é evidente que tenho a maior simpatia por ele e pelo que julga ser o melhor para si e para a sua família. Mas o conceito de propriedade privada tem muito que se lhe diga. E a prova está que tem evoluído com o tempo. Até há uns anos atrás, qualquer senhor era dono do seu castelo (incluindo mulher, filhos e empregados). Hoje em dia, não só todos os habitantes do castelo têm direitos publicamente reconhecidos como o próprio castelo tem de obedecer a normas de edificação, planeamento urbanístico e ordenação de território. Ou seja, a propriedade privada é importante, sem dúvida, mas a conservação da qualidade dos solos e da biodiversidade é muito mais importante. No limite, a Terra é propriedade privada de todos os seres que a habitam e as regras que regulamentam a sua utilização têm que ser consensuais. Já houve tempo em que as greves e as manifestações eram ilegais, lembram-se? As sufragistas foram injuriadas e presas; hoje em dia não nos passaria pela cabeça pôr em causa o voto das mulheres. O próprio 25 de Abril nasceu duma insurreição, um grupo de militares ousou fazer uma acção ilegal. Quero com isto dizer que não vale muito a pena discutir se a acção foi boa ou má; a história se encarregará de a julgar.
Há uma coisa, no entanto, que os apologistas da causa OGM poderiam fazer pelo futuro do humanidade: oferecerem-se como voluntários para um grupo de estudo sobre a influência da ingestão de produtos geneticamente modificados. Eu estou pronta a voluntariar-me para o grupo comparativo, o dos não-consumidores de OGM. Daqui por uns anos poderemos ter evidências científicas do seu efeito no organismo humano, em vez de basearmos as decisões em opiniões intuitivas. Os ratos de laboratório lá se viram com os fígados e os rins alterados, mas esses por enquanto não contam.
Relativamente a alguns argumentos sobre as vantagens dos OGM, consultem estes sites:
http://www.bulletins-electroniques.com/actualites/42766.htm
STUDY OF THE WEEK:
ORGANIC FARMING CAN FEED THE WORLD
A new University of Michigan study indicates that organic farming is more productive than chemical and energy intensive industrial agriculture. Researchers noted 293 examples in previous studies that corroborate the fact that organic farming is better than conventional, but pointed out that biased studies funded by chemical producers have clouded the public’s understanding of the issue. Corporate agribusiness has spent decades repeating the mantra that chemical intensive agriculture is necessary to feed the world. But according to the new report, “Model estimates indicate that organic methods could produce enough food on a global per capita basis to sustain the current human population, and potentially an even larger population, without increasing the agricultural land base.” Ivette Perfecto, a professor at the University of Michigan, said of the study, “My hope is that we can finally put a nail in the coffin of the idea that you can’t produce enough food through organic agriculture.”
Learn more: http://www.organicconsumers.org/articles/article_5996.cfm
ANOTHER STUDY OF THE WEEK:
SCIENTISTS REVEAL THAT PESTICIDES ARE REDUCING CROP YIELDS BY ONE-THIRD
The National Academy of Sciences dropped a bombshell on the agri-toxics lobby in June when it published a study indicating that pesticides are actually decreasing crop yields by one-third. Specifically, pesticides are killing important bacteria in the soil that naturally produce a useable form of nitrogen for plants, a necessary fertilizer. As the use of chemical pesticides has increased in the U.S., soil bacteria have been dramatically reduced, thereby creating an insatiable demand for petroleum-based fertilizers. In contrast, organic farming promotes a healthy living soil with increased crop yields.
Learn more: http://www.organicconsumers.org/articles/article_5995.cfm
Obrigada ao autor deste blog pelo que tem feito pelo esclarecimento do assunto. Aproveito também para agradecer a todos quantos têm posto o seu empenho e dedicado os seus tempos livres para informar os cidadãos sobre o verdadeiro estado da arte nesta questão.
Este é um assunto que divide a comunidade científica. Não nos deixemos enganar pela grande campanha de difamação que foi posta em marcha: o próprio maniqueísmo primário de que se têm servido deveria deixar-nos de pé atrás (dum lado os cientistas cheios de certezas e garantias a lutar pelo futuro da humanidade e por outro uns miúdos que não se lavam, não estudam e têm a mania de ser do contra).
Como o autor deste Blogue, também acho que a questão se tornou muito mais política do que científica.
Escrevi 2 textos que publiquei em alguns Blogues, e também como resposta a José Pacheco Pereira. Puz até um dele como resposta à sua histeria (partilhada com a quase totalidade dos “nossos” comentadores) – no Abrupto. Como é óbvio, ele decidiu não pôr como comentário aos seus devaneios.
Ponho aqui os 2 links para os comentários relativos à histeria nacional em torno do caso “verde eufémia”, espero que possam comentá-los (não ponho os textos inteiros por uma questão de SPAM).
http://pt.indymedia.org/ler.php?numero=130499&cidade=1
e
http://pt.indymedia.org/ler.php?numero=130554&cidade=1
Tentei dentro dos possíveis analizar factos e reduzir o número de declarações apaixonadas a um mínimo, coisa que os nossos “comentadores” pouco se preocuparam em fazer, certos da sua liberdade criativa, e vitoriosos e seguros nas suas afirmações.
Saudações a todos e um agradecimento ao autor deste blogue,
Ricardo Alves
(rikardoalves@gmail.com)
Não é necessário agradecer ao autor do blogue (que de resto está de saída).
Eu não sei se a minha opinião relativamente à acção está clara — uma vez mais –, não concordo, acho contraproducente, etc., etc. Tudo bem que o assunto essencial sejam os transgénicos, mas também não vale a pena fazer de conta que o que se passou é positivo, lá porque a causa é boa.
Se calhar já me repito, mas fico com a ideia que não lêem tudo.
Dou o braço a torcer, que foi via a “acção” e lá da “estética”, que se está a discutir os transgénicos, mas podem ter a certeza que são mais os que migram para o lado a favor ou que passam a ter dúvidas, do que o seu inverso (que passa a dar bastante mais trabalho). Ao discutir, pode-se estar a beneficiar o infractor como diz o Dr. Pacheco Pereira, mas a discussão está sempre inquinada pela “acção” que lhe dá origem.
O Ricardo Alves quer elevar a discussão, mas refere-se à histeria nacional. A destruição do milho não foi de um histerismo atroz? Pareceu-me um pessoal bastante histérico e os resultados estão à vista. E nos seus textos que não vou analisar muito mais atalha com um “digestão refinada de intelectuais como (aparentemente) Pacheco Pereira”. Se é com linguagem planfletária que se eleva a discussão, estamos conversados.
A partir de certa altura, concordo que se tentou fazer da “acção” algo que aquilo não foi. Mas é o jogo, deviam ter previsto isso e que iam prejudicar enormemente um assunto que é importante.
Acho um exagero chamar “terrorismo”, mas também faz parte de um jogo que por exemplo o Bloco de Esquerda conhece como a palma da mão: Contra a imigração? Racista! Os ciganos traficam droga? Xenófobo! Tem outra opinião? Fascista! Tem um negócio próprio? Imperialista! Algo funciona? Salazarista! E assim sucessivamente na desvalorização do significado das palavras. Não há paciência.
Eu de Boaventura Sousa Santos, não ouço e leio senão asneiras. Umas atrás das outras. Não tenho dúvidas que seja um intelectual. Neste caso e como quer ter sempre aquela atitude de “enfant terrible” dos intelectuais, fico sem saber se é contra os transgénicos porque é a favor da “acção” ou se é a favor da “acção” porque já era contra os transgénicos e a destruir milho é que a gente se entende.
Ao Dr. Pacheco Pereira, como é óbvio não interessa discutir os transgénicos no Abrupto — para o caso de não ter reparado o assunto central foi a “acção”. E também como é óbvio face à linha editorial que segue já há muito tempo.
Surpreendeu-me ter publicado tantos comentários meus e ter derivado ligeiramente para os transgénicos propriamente ditos — mas ele faz uma gestão cuidadosa de comentários a favor e contra, dentro do seu critério. Como eu aqui tenho o meu critério.
Ainda relativamente aos resultados da “acção”, digo-lhe que o mercado não ficou muito impressionado. Ainda a semana passada o banco de investimento Activo Bank 7 proclama na sua newsletter que a “Biotecnologia: um sector de futuro” e seguidamente “Como investir em Biotecnologia”.
Sobre a contaminação:
Como não consigo compreender porque é que é moralmente correcto aceitar apenas as variedades tradicionais do que as transgénicas, continuo a achar que o argumento de “contaminação da variedade X por transgénicos” pode ser completamente inevertido para “contaminação da variedade transgénica por X”.
No México detectou-se efectivamente elevada contaminação de variedades “selvagens” com genes de variedades transgénicas. Mas é-me evidente que estas selvagens já estariam também contaminadas com variedades “domésticas” cultivadas normalmente!
Pode acontecer que as variedades transgénicas tenham vantagens tão significativas (em termos de defesa de predadores p.e.) que acabem por substituir as variáveis “semi-selvagens” pre-existentes. Teremos um caso de evolução por sobrevivência do mais forte em termos acelarados. Daí não ser nada contra a criação de bancos de sementes e/ou apoios pontuais à manutenção de variação genética.
Sobre os sabrores da agricultura bioológica: como normalmente estes produtos estão “contaminados” com maior ataques de pragas (bicho), são normalmente consumidos logo após a colheita, mas sujeitos a apodrecimento, e possivelmente outros, não têm as desvantagens da assepsia dos produtos agrícolas industriais (apanhados cedo, com corantes, conservantes, sem sinal de bicho, etc, etc). Há porventura maior risco de indigestões com produtos biológicos, mas saberão certamente melhor.
Só mais uma questão sobre sabores: são derivados normalmente da presença de ésteres (derivados da reacção entre um ácido orgânico e um alcool). Ou seja, se alguém incorporar um gene num morangueiro que leve a que a planta produza mais éster de morango vamos facilmente enjoar deste sabor :)
Realmente a opinião pública é uma entidade esquisita.
Vide http://observa.iscte.pt/docs/03 Relatorio Inquirito.pdf para um estudo genérico sobre o que pensa a população nacional sobre vários riscos.
Vide ainda http://biotecnologia-na-escola.up.pt/images/Monografia.pdf
Sobre isto só lhe digo o seguinte… Realmente é bom estar de saída por tempo indeterminado, porque já não aguento este tipo de conversa cujo objectivo é andar em círculos. Ontem deu na SIC Notícias um documentário que responde a muitas das suas questões (e volta a frisar que não se sabe as implicações para a saúde humana).
Agora vem a moral… Já se esqueceu que não é só moral, que há efectivamente problemas e que a maior parte não está sequer dimensionado. Mas dizia moralmente? Para si, moralmente não há problemas em montar a sua indústria química, poluindo o ribeiro local. Quem vier atrás que feche a porta.
Chegam estes aprendizes de feiticeiro, com uns rudimentos de genética (todo o conhecimento acumulado até hoje não passa disso) e acham que podem impor os seus produtos aos outros. Mais. Patenteiam seres vivos, cuja base genética é comum a milhares de outros (e até roubam sangue a povos indígenas, mas isso é uma outra história). E como têm as patentes, se o pobre do vizinho tem a sua cultura contaminada, além do prejuízo, ainda é processado por violação de direitos intelectuais.
Quem concorda com isto e ainda fala de moral, só merece viver numa sociedade assim, onde a liberdade tem a forma de um funil bem apertado lá no fundo. Não é o “1984”, nem o “Admirável Mundo Novo”, é a realidade hoje e num futuro próximo.
Não tem nada casos de sobrevivência do mais forte nem evolução nenhuma quando no milho andam genes de peixes e outras abominações. A mistura entre variedades naturais é o que acontece na natureza, qualquer semelhança com o que está a dizer é pura coincidência. Já observei isso nas abóboras, não tem nada de mais.
Esse grande timoneiro Mao Tse-tung, também achava que os pássaros andavam a “contaminar” as culturas comendo grão. Mandou eliminar todos os pássaros e, digamos, uns 40 milhões de chineses pagaram o preço.
O agradecimento que lhe fiz é independente da sua opinião. Conheço muito boa gente que não concorda com a minha opinião e nem por isso deixei de agradecer o facto de serem capazes de discutir comigo qualquer assunto de forma civilizada.
Ao contrário do que possa pensar, não escrevo no seu blogue porque concordo consigo e preciso da sua aprovação, mas porque o senhor, ao contrário da maioria das pessoas que se preocupam em partilhar a sua opinião (e relativamente a este assunto…) entrou em histeria, avançando em nome dos bons costumes, valores tradicionais, direitos de propriedade, etc.
Resposta ao seu comentário:
Li os seus textos, portanto escusa de dizer que as pessoas não o lêem lá porque não concordam 100% consigo. Dê-se por feliz por ter leitores atentos e comentadores preocupados, ok?
A discussão pode de facto estar inquinada pela acção (sem aspas) que lhe dá origem, como diz. Mas está ainda mais pelo tipo de noções de democracia e mesmo pela democracia que “de facto” temos no nosso país.
A discussão está inquinada porque nunca houve qualquer tipo de acção que se auto-afirmasse como de “desobediência civíl”, e assim, tivemos de imediato todos os comentadores da praça a acusá-la de falsa desobediência civíl, apoiando-se num simples facto: Os participantes não haviam (ao contrário de Thoreau) aceite a força da lei, e pago com os seus corpinhos na prisão.
Ora, para quem não esteja muito atento, Thoreau diga-se brevemente e de passagem foi preso PORQUE cometeu um acto de desobediência civíl.
Como espero que saiba, a desobediência civíl não pede a concordância ou a felicidade nem de todasnem sequer de uma maioria de pessoas, da mesma maneira que eu passo muito bem sem a sua concordância, mas menos com a noção de que o senhor pensa que eu possa precisar da sua concordância.
Não, o acto de destruíção de menos de 1 hectar de milho não foi uma acção histérica.
Conforme fui estudando o caso – a acção em si, pude aperceber-me que ela obrigou a muito trabalho por parte de muita gente. Os media foram contactados, foram enviados vários press releases pelo Movimento Verde Eufémia, todos traduzidos e enviados à imprensa estrangeira. A preparação, a quantidade de pessoas, a concertação num acto único, a quase ausência de violência (ah, e por favor não me venham com o pontapé, que aí EU é quecomeço a falar da fragilidade dos tempos modernos, perante o coro de escritores que pedia umas “chumbadas” ou uns “tiros”), a escolha de um porta-voz, a realização de uma acção de informação na vila mais próxima, a consequente distribuição de informação pelas pessoas.
Quer um exemplo de histeria?
150 pessoas a queimarem num instante esses 51 hectares, e a dirigirem-se para outros. A berrarem nos media que eles têm a razão do seu lado e que vão ganhar. Acrediteque aí sim, os media dar-lhes-iam voz, coisa que não deram. Quer que justifique isto?
Eles preveram perfeitamente que isto ía acontecer (não provavelmente nas proporções que atingiu – 3 semanas de comentários em jornais, revistas e rádio).
Relativamente aos media, O Courier (se não me engano… pode ter sido o Guardian), fala da primeira acção de “Desobediência Civíl Ambiental”, e acusa os media nacionais de “histeria” (Se duvida, arranjo tempo para lhe apontar as fontes).
É-me indiferente o que o Bloco de Esquerda acha ou deixa de achar, tal como o é para a maioria da população. Agora, o mesmo já não se passa quando quem acha detêm poder e voz activa nos media. Amigo, foram 3 semanas de constantes notícias com praticamente um único ponto de vista, berrado repetidamente.
Será difícil de compreender?
A capacidade do Bloco para enviar notícias para os jornais é muito menor que a do governo ou dos 2 partidos que costumam estar no poder. Diabo!, é até menos que a do PC. Lol
Bom, tal como quase toda a gente nos nossos meios de comunicação social, o senhor põe-se a criticar alguém sem qualquer explicação. Tal como neste texto, eu fui obrigado a alongar-me um pouco, de forma a não ser incorrecto. O senhor diz que não gosta de Boaventura Sousa Santos, que só lê senão asneiras e que não tem dúvida que ele não seja um intelectual. Tendo em conta que o senhor apenas expôs a sua irritação para com o homem, era o equivalente a eu encurtar o meu texto todo relativamente ao Pacheco Pereira, indicando que não gosto dele (o que nem sequer se aplica), porque ele “é mau, cheira mal da boca e é, com certeza, um independente”. O valor da minha afirmação é zero, já que não me preocupei em justificá-la. Certo?
Sim, tem razão relativamente aos critérios. Também eu tenho o meu blogue e os meus critérios. (garanto-lhe que mais curtos do que este, mas nem sempre a concisão ajuda).
Também não tinha especial desejo que Pacheco Pereira falasse acerca dos Transgénicos, já que este é um assunto, tal como tantos outros (todos?) em que JPP diz que sabe e quando fala, fica a parecer que não sabe. Apenas pedi a JPP para usar um pouco de lógica e de calma no seu discurso, calma e lógica a que nos habituou em assuntos que não o “irritam”. Ah, e já agora que sustente as suas acusações.
Claro que a acção não pode trazer imensos resultados. Foi a primeira e a minha opinião mantém-se – muitas mais virão.
Obrigado.
Caríssimo, estou esclarecido. E como fala por mim e por si, fiquei até a conhecer-me melhor.
Ainda bem que estudou o caso e se apercebeu que foi necessário trabalho, diria, um certo nível de profissionalização. O problema do GAIA é que toda a gente se apercebeu disso sem grandes estudos e é exactamente o inverso da espontaneidade que eles apregoaram em sucessivos comunicados.
Só continuo a não compreender como é que as “acções” vão evitar a proliferação dos transgénicos nos nossos campos.
Olá.
Não acredito que evitem a proliferação de transgénicos, já que as empresas que tentam pôr esses mesmos transgénicos no mercado (nos mercados, diria), são demasiado poderosas, ricas, influentes, enfim – poderosas.
Creio que seja possível pôr as pessoas a falar do assunto, como aconteceu (ainda está a acontecer se ler os comentários de leitores para revistas, blogues e sites). E pode a tal ponto como em Inglaterra, onde os alimentos com OGM passaram a estar identificados aquando da compra.
Foi desta forma que foi conseguido nesse paías a rotulagem dos produtos alimentares – através de acções como esta, não esperando pela boa vontade do Governo, dos Media ou das maiorias silenciosas.
Nota: Tendo em conta o contágio entre plantações, a questão se tal rótulo serve de algo , é válida… :(
Também não acredito muito na espontaneidade do GAIA, mas sinceramente pouco me importa.
Comecei a preocupar-me pelo assunto não por causa dos Transgénicos em si, por causa de partidos políticos ou grupos de activistas, mas por causa da reacção em massa dos “bem-falantes” e “bem-pensantes” (eles auto-intitulam-se assim, a sério), que me pareceu mais um daqueles “tiques fascistas”, de que se tornou moda falar.
Saudações
PS: Não quero convencer ninguém nem fazer minhas as palavras de outros. Quero apenas encontrar pessoas com quem discutir um assunto, sem acusações nem ofensa gratuita.
Acho preocupante (por exemplo) a GNR estar presente numa acção ilegal e não actuar. Sim, com bastonadas se for necessário.
Isso é óbvio que não pode deixar as pessoas cumpridoras indiferentes — e sim, há muito relativismo em muitos comentários que se leram e ouviram (é um facto que coisas bem piores não lhes causam a mínima vontade de lavrar sequer uma linha). Mas é deste caso que se está a falar.
Se não muda nada, mais vale estar quieto. Se vai mudar parte da opinião pública que não gosta destas manifestações a favor dos transgénicos, mais vale estar quieto. Se não há substância, mais vale estar quieto.
Dito isto, na impossibilidade de evitar os transgénicos é escandaloso as directivas permitirem contaminação inclusivamente de culturas biológicas. Não ser obrigatória rotulagem, para mim, é apenas um indicador da total subserviência do poder político ao poder económico (e será difícil convencerem-me do contrário).
Não são “acções” que tornam uma sociedade civil apática, numa sociedade civil participativa. Aliás, quando a dita sociedade participa, de alguma forma é sempre contra os interesses dos políticos que temos. Mesmo assuntos que chegam ao parlamento por via legal, são despachados em dois minutos ou depois do prazo de terem alguma relevância.
Não me peçam é soluções. Sei que destruir milho não resolve nada e aparentemente já não é mau.