Roupa

Compro muito pouca roupa, que uso até se desfazer (e ainda passa para o quintal). E reparo que hoje em dia se desfaz com mais facilidade que antes. Não tenho paciência para procurar pechinchas e mesmo nas promoções (eufemismo para saldos cada vez mais precoces), ou especialmente nas promoções, vou direito às marcas que de uma forma ou de outra considero ultra-caras, mas onde perco pouco tempo. Ultra-caro, para mim, é olhar para algo que adquiri e ter a certeza absoluta que não vale o dinheiro, nem coisa que se pareça. E voltando ao início, são essas marcas (nenhuma em particular), que cada vez têm menos qualidade objectiva.

Assim, verifico que adquiri duas peças de uma conhecida marca alemã. Uma feita na China, outra feita na Polónia (na Polónia afinal não há só canalizadores — Wikipedia). Surpresa, a peça chinesa não é um cêntimo mais barata que a polaca.
Duas peças de uma conhecida marca americana. Ambas feitas na China. Ambas caríssimas.
Duas peças de uma conhecida marca britânica. Ambas feitas em Espanha e previsivelmente exorbitantes.
Portanto, ainda a propósito do optimismo sem fundamentos, constato uma vez mais que não há nada que pelo simples facto de ser fabricado na China, chegue mais barato a Portugal. A excepção é a bugiganga, o pechisbeque, os brinquedos com pilhas, tinta carregada de chumbo e nenhum tipo de segurança ou controlo de qualidade.
Uma peça de roupa de 100,00€, cujo preço (a)normal é quase 200,00€, é fabricada na China para o “middleman” ganhar 1200% em vez de 900% — o consumidor final ganha exactamente zero directamente e perde todos os dias indirectamente. O preço do petróleo, a esse nível, está a ser um clarificador extraordinário. Como os liberais gostam muito de dizer e eu sempre concordei, não há almoços grátis.
Pelo caminho da “revolução” chinesa temos, “dumping” social, “dumping” ambiental completo, matérias primas a custos meteóricos, florestas a desaparecer, África madura para a colheita chinesa e a caminho de uma crise sem precedentes (adivinhem para onde irão os refugiados, Europa ou China?), enfim um nada admirável Mundo novo.
Afinal, o início do século está a revelar-se interessante. O século passado também foi interessante. Estabilizou lá para os anos 50 ou 60. Milhões de mortos depois. Não é só nas guerras que morre gente, mas mesmo a esse nível estamos bem servidos — assim de repente, vejo bons motivos para se começar uma guerra no ainda omnipresente petróleo, nos recursos nucleares, na água e na produção de alimentos (que já foi um dos pontos altos da guerra fria EUA-União Soviética). Não seria mau de todo que aparecessem líderes dignos desse nome.

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