Inversamente proporcional

Enquanto o Mundo se deleitava com as eleições nos EUA, estive a ler “Pensar Como Uma Montanha” de Aldo Leopold (“A Sandy County Almanac” no original de 1949). “Pensar Como Uma Montanha” é uma expressão do próprio Leopold, que eu já conhecia de uma banda desenhada — “Concrete: Thinking Like a Mountain” de Paul Chadwick. Este é um dos livros importantes do movimento conservacionista norte-americano e foi agora dado à estampa em Portugal pelas Edições Sempre Em Pé (das quais já tinha lido o “Ecologia Profunda), numa edição que me parece muito cuidada.

A palhaçada mediática de volta das eleições americanas, permitiu-me também reflectir sobre o nosso tempo. Não só a época, mas o nosso tempo como capital verdadeiramente limitado que possuímos. Foi desde Gutenberg que o conhecimento humano se começou a fixar de uma forma sistemática e cada vez mais acessível. “Fast forward”, foi nos últimos 100 anos que tudo realmente acelerou e chegamos aos dias de hoje onde o conhecimento está verdadeiramente por todo o lado. E o que sinto, ao ler um importante livro de 1949, é que a duração média da nossa vida é inversamente proporcional à quantidade de conhecimento que fica disponível. É cruel.
É uma das razões que me leva a não entender o tempo infinito que dedicam às eleições americanas ou a um qualquer “espectáculo mediático” onde, após a primeira meia-hora, deixa de haver muito mais para dizer. Mas diz-se. É a “maratona informativa” de banalidades. Em vez de se aprender, fica-se mais burro.

Uma resposta para“Inversamente proporcional”

  1. mário venda nova

    É a “maratona informativa” de banalidades. Em vez de se aprender, fica-se mais burro.

    É algo que me surpreende todos os dias, o arrastar das notícias ad-nauseum, muito para além do aceitável e do desejável. Mesmo quando a notícia já não tem mais nada para desenvolver continuam a insistir. Suponho que seja um sinal dos tempos e da falta de algo realmente avassalador que seja uma notícia, é também um sinal do elevado tempo que os telejornais têm nas tv’s portuguesas. Não me parece lógico arrastar os telejornais por hora e meia, por exemplo, excepto se for para encher e fazer mais intervalos para publicidade.

    Hoje em dia vejo pouca tv mas o fenómeno já se alastrou por todo o lado, internet incluída. Para conseguir ler tudo o que desejo precisava de um dia inteiro e outro para assimilar tudo o que li. Impossível. Mesmo nos livros estou muito atrasado em relação ao que já tenho na biblioteca e na BD estou com cerca de dois anos de atraso, ou seja comprei livros há dois anos que ainda não li…

    Os estímulos hoje são tão grandes que vivemos num estado de alerta permanente com medo de perder algo de importante mas de facto a única coisa que estamos a perder é a nossa própria vida. E isso é que é importante.

  2. José Rui Fernandes

    Isso dos telejornais também. Mas nem me refiro a isso neste caso. De resto raramente vejo telejornais e tv. Utilizo a internet para notícias.
    Mas até nisso os media portugueses são incompetentes, aquela cena da Quadratura do Círculo ter o blogue actualizado “ao vivo”, sendo o blogue uma coisa desenrascada à última da hora e que em última análise não funcionou. E para quê? Para a SIC dizer que acompanha o progresso e até tem blogues… Que fiasco confrangedor. E visitar a página da SIC para ser recebido por um anúncio cor-de-laranja por cima do conteúdo a ocupar metade do ecrã… Mais todos aqueles anúncios “multimedia” a acrescentar ruído… Estes tipos devem julgar que são a única página da internet… Nem para o que se faz bem lá fora olham. Nem imitar sabem.

    na BD estou com cerca de dois anos de atraso

    Ora aí está algo imperdoável.

  3. José Rui Fernandes

    Leopold o caçador… Lidei bem, embora sem entusiasmo. O livro é muito bom e largamente compensa essa faceta.
    De qualquer modo, não sou contra a caça de um modo absoluto. Eu não sou contra a caça ao bisonte por parte dos índios americanos; sou contra essa mesma caça por parte do Buffalo Bill e restante cáfila de destruidores.
    Sou contra a caça como desporto, o prazer da matança, o gozo, as tainadas, o destruir em vez de construir. Sou contra a criação de espécies cinegéticas sem entenderem porque essas espécies não existem ou não se mantêm na natureza, mesmo constantemente reintroduzidas.
    O próprio Aldo Leopold compreendeu isso perfeitamente. Se como ele, 200 milhões de americanos (à época) resolvessem pegar nas carabinas, não restaria nada. Leopold tinha uma ética inabalável, coisa que eu não vejo nem nunca vi nos caçadores de hoje (em primeira mão, não é de ouvir falar). Aliás, nem se pode falar de ética, quanto mais de inabalável.
    Sou contra a caça aos predadores e a sua extinção por decreto como aconteceu extensivamente nos EUA. E ainda hoje acontece, no Alaska por exemplo.

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