Porque não faço nada em casa

Porque me arrependo sempre*! A nossa porta de entrada é grande para uma entrada pequena e no primeiro patamar tem um degrau que entre má solução arquitectónica e pior execução, é uma constante fonte de chateação. É uma grossa placa de freixo, fixa à parede por duas peças de metal que basicamente ficam invisíveis para quem entra. Claro que com tão pouco apoio, o degrau não aguenta o constante entrar e sair. E estava há meses solto.

Do lado direito, de três parafusos, nenhum. Do lado esquerdo, dois meios manhosos. A primeira tarefa seria retirar esses dois. Cheguei à conclusão que não tinha chave de fendas adequada, mas o meu irmão tinha deixado um aparafusador eléctrico algures. Corri tudo, não encontrei. Uma perda de tempo incrível porque ando entre a nossa casa, a casa dos meus pais e ainda a casa que era da minha avó. Estas coisas podem estar em qualquer parte e toda a gente pega em tudo.
Perguntei ao meu pai se tinha uma chave de fendas grande. Não confirma nem desmente, ainda sabe menos que eu. Por fim lá encontrei uma toda ferrugenta. O caricato é que devia haver ferramenta para tudo — e tudo, é desde desmontar um automóvel completamente, até fazer uma mesa com pernas torneadas. O meu avô tinha tudo. E desapareceu praticamente tudo.
Bem, mal ataquei o primeiro parafuso, parti logo a ponta à chave de fendas. Comecei a preparar-me para uma longa tarde de bricolage, exactamente como eu gosto. Meti-me no jipe (o carro continua inoperante) e lá fui eu ao Aki, a ranger os dentes, comprar uma chave de fendas. Comprei uma bem jeitosa, mas daquelas que dá para mudar as pontas (bits). Ainda não tinha chegado, já estava a pensar que precisaria de uma ponta bem larga… Como aquelas que tenho junto do aparafusador do meu irmão. O tal que não tinha encontrado.
Mais meia hora à procura. E lá encontrei, em casa dos meus pais (depois de lhes perguntar 20 vezes se não tinham visto). Pelo menos, tirei finalmente o degrau. Apenas saiu uma bucha, portanto planeei furar a parede com buchas e tudo, pois pretendia meter buchas e parafusos maiores e mais fortes. Aliás, tão maiores e mais fortes, que pediam uma broca de 10mm. Azar nítido, brocas para betão tinha apenas até 8mm. A ranger os dentes, desta vez de forma audível, lá fui eu ao Aki outra vez em grande velocidade. Peguei na broca e num adaptador para aspirador para limpar as cinzas da salamandra — acho que deve ter sido um gasto terapêutico. Que nervos…
Berbequim em riste, primeiro furo. Segundo furo, zero. Miserável broca ao fim de um furo já estava arruinada. Impossível. Observei melhor o problema. Além da bucha, o parafuso estava partido lá dentro. Bonito. Terceiro furo idem. Vai já degrau, vai já tudo pelo ar. Lá veio a Susana acalmar a profanidade que ali se estava a desenrolar, com a agravante que era na porta da rua.
Resolvi colocar o degrau com apenas três parafusos e um suporte por baixo, nada invisível. Que aliás é provisório mas já há muito tempo concluímos que tem de ser a solução permanente. Queria cortar lenha, apanhar folhas e sei lá que mais e passei a tarde toda de volta do degrau. Não faço nada em casa, porque me arrependo sempre.

*Temos dois vizinhos que este ano pintaram a casa e um deles ainda colocou um gradeamento todo novo (com ajuda de outro vizinho) por causa de um cão que têm. Aqui e em casa dos meus pais… Não se prega um prego sem “chamar um homem”, o que é um bocado vergonhoso, mas sempre que me dá a boa vontade para arranjos caseiros é só frustração.
A propósito do cão, é uma história que não resisto a contar. Esses vizinhos compraram (não sei exactamente) um Labrador. O facto é que o cachorro com dois ou três meses, passou pelas grades do portão e fugiu. Entretanto, alguém o encontrou. Felizes da vida, contactaram a pessoa — que recusou-se terminantemente a devolver o pequeno canídeo. Magnífico.
Como tantas vezes acontece e na minha opinião é o acertado, para não se chatearem, compraram outro. Mas não sem antes refazerem a vedação toda da casa, da forma que referi.

Uma resposta para“Porque não faço nada em casa”

  1. Luciano

    pois… :)
    volta e meia lá acontecem desses contratempos.
    comigo também não seria a primeira vez que se vêem coisas a voar para longe. o material tem sempre razão, dizem, mas às vezes abusa!

  2. João Espinho

    A mim nem é volta e meia… parece-me que é o pão nosso de cada dia a cada vez que me decido fazer alguma coisa. Ou porque é a broca que já queimou (fácil em paredes de betão) ou porque as caixas na parede são mais largas que os interruptores (diferença entre standards soviéticos e standards europeus)… Durante a renovação do meu apartamento na Estónia, era “cada tiro cada melro”… o mesmo com as soluções “provisóriamente definitivas”…

    Um abraço

  3. José Rui Fernandes

    Já vi que nestas coisas não consigo ganhar. Vou ver se aproveito os dias calmos a seguir ao Natal para “montar” a oficina onde já foi a do meu avô. Pode ser que as “good vibes” andem no ar. A esse barraco eu chamava “tulha” quando era pequeno e até pintei o nome na antiga porta. Mal se podia lá entrar, mas o meu avô orientava-se bem.
    Luciano, tu pareces mais habilidoso que a média :) . Até me fazes lembrar o meu avô — não fizeste um triciclo para a matilde? O meu avô fez-me um triciclo e um carro a pedais. Um dos pontos baixos da minha vida, foi ter crescido e deixado de caber nesses veículos (também os parti, é um facto).

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