Ninguém esperava
O almoço de Sábado em Figueira de Castelo Rodrigo teve a sua piada… Era suposto eu o Miguel e o Pedro (da Associação Árvores de Portugal) almoçarmos com o António Monteiro da Associação Transumância e Natureza e tal como à inquisição espanhola, ninguém esperava o Henrique Pereira dos Santos. Esse mesmo, do blogue Ambio, com o qual todos nós já nos pegamos (o Miguel na Sexta-feira anterior). Se não é por causa dos incêndios é por causa dos linces; se não é por causa dos linces é por causa das eólicas; se não é por causa das eólicas é por causa das árvores; se não é por causa das árvores é por causa da tourada; enfim, o Henrique Pereira dos Santos é uma espécie de renascentista do ambiente, sabe tudo graças a Deus. Em inglês, um “know all”. E sempre para o mesmo lado.
Mas do que eu me queixo é da sua visão antropogenicamente prática da conservação. Disso e de uma fé inabalável. Fé na recuperação dos ecossistemas, fé na recuperação do lince que na sua opinião — reconhecidamente provocatória —, até num campo de golfe poderiam viver, fé que outros factores são mais importantes na morte dos abutres que as eólicas, fé que os incêndios fazem parte de um ciclo que chega a ser benéfico, fé numa espécie de natureza infinita, que recupera sempre das maiores barbaridades… Como diz o próprio, a natureza não se preocupa nada connosco, nós é que insistimos em a estudar.
Pessoalmente, desconfio de toda a gente que me diz que algo está a recuperar em termos ambientais. E não me preocupo nada com a natureza, preocupo-me é com o que as pessoas fazem à natureza. Com isso e com conservadores como o Henrique Pereira dos Santos.
Dito isto, tudo altamente civilizado como seria de esperar. Só se falou do lince ibérico, em vez da Associação Árvores de Portugal ou da Associação Transumância e Natureza. Mas até foi interessante. Pelo menos teve a vantagem de me voltar a fazer leitor do Ambio e gostei de conhecer a pessoa, fonte de tanta irritação.
Uma resposta para“Ninguém esperava”
Apenas uma precisão de detalhe: é o Palmeirim que eu cito quando digo que a natureza não está lá para a estudarmos, nós é que insistimos em estudá-la.
henrique pereira dos santos
Não concordo de uma forma ou de outra pela seguinte razão: É uma afirmação apropriada para o século XIX. Hoje mais que nunca é necessário estudar os efeitos das acções do Homem na natureza e como sabe, nem isso é suficiente para travar uma série de processos nefastos.
De acordo, mas o sentido em que Palmeirim emprega a frase é o de que é natural que não consigamos compreender tudo facilmente, ou seja, a frase é o reconhecimento da nossa capacidade limitada de conhecer a natureza, o que aconselha a alguma precaução na intervenção.
Se bem interpreto o Palmeirim, este é o sentido da frase.
henrique pereira dos santos
E só mais um detalhe. Tudo aquilo a que chama diferentes assuntos são quase sempre abordados por mim a partir de um único assunto: a dinâmica e a interpretação da paisagem.
henrique pereira dos santos
Sim, mas repare que essa reflexão apenas é possível a quem de alguma forma pensa a Natureza. Ou seja, quem mais estuda é quem mais tem consciência da sua incapacidade de compreender. Concerteza já reparou que pessoas inteligentes, quando se trata de Natureza, revelam uma articulação mental que chega a ser indigente. Em duas penadas resolvem o problema desde que não interfira com uma série de crenças que podem ser ideológicas, políticas ou apenas de educação. Para esses a Natureza é simples.
Isso já não entendo… Como é que a energia nuclear (por exemplo) é abordada desse ponto de vista? E tantos outros assuntos.
Raramente falo da energia nuclear, e sempre a um nível básico de gestão de risco, nunca, que me lembre, falei tecnicamente de energia nuclear.
henrique pereira dos santos
Era só um exemplo!
[…] comentar uma série de discussões sobre alterações climáticas. A maior parte dos textos são do inevitável Henrique Pereira dos Santos, mas no bom sentido. Neste caso, sempre do lado que a minha opinião classifica como certo. O […]