Para variar
Para esta Quinta estava prometido um belo repasto na Associação de Defesa do Bestança e fui com o meu pai cedo, a tempo de almoçar no restaurante O Meu Gatinho. Queria trazer água e um jipe de lenha. Mais um pouco e quase que passava um ano sem ir ao terreno.
Quando chegamos, nem foi preciso entrar para ver logo que ramos de um castanheiro e de uma nogueira atravessavam o estradão e já não se passava. Começou logo mal. O que vale é que meti no jipe os meus serrotes e tesouras enormes. Enquanto eu cortava aquilo tudo, o meu pai não se fez rogado e apanhou um saco de excelentes castanhas. Foi o pagamento, porque aquela parte nem me pertence.
Voltamos ao jipe e um pouco mais acima as silvas estão a fechar o caminho de uma forma que na próxima Primavera já não se passa. Portanto, estão a ver o quadro pintado em cores garridas que realçam o erro que foi comprar o Sargaçal nestas condições. O infelizmente inesquecível vendedor e vizinho de baixo, enquanto pôde só chateou; agora que não pode, chateia. Se eu quiser passar tenho de lhe limpar o estradão. Há oito anos as facilidades eram todas, nem era preciso jipe para passar no estradão, podia-se subir de carro. Nunca é demais repetir: se estiverem interessados na vida no campo, nem meios caminhos, nem meias águas, nem meios nada. Com certas pessoas — e é mais fácil ter azar do que sorte —, o terreno de borla já é caro.
A lenha anda um bocado espalhada e deve dar para três viagens. Demoramos para sempre a carregar o jipe, eu sem sair do sítio e o meu pai já não é nenhum jovem. Aqueles caminhos e quelhas que já passei a correr e aos saltos, são agora grandes obstáculos. Cada irregularidade tem de ser negociada e com grande concentração, não vá meter água outra vez. Esta fragilidade do corpo humano é muito desanimadora. A muitos locais nem pensei em chegar, vi de longe…
Agora ainda tenho de descarregar o jipe e cortar aquilo tudo. Há pedaços de tronco, de um carvalho que caiu ainda antes de comprar o terreno junto ao Ribeiro do Enxidrô, que não sei muito bem como vou rachar… depois vejo, senão vai tudo a moto-serra e acabou.
Ah, o pobre do Cláudio está em França onde ganha três ou quatro vezes mais a apanhar maçãs que depois chegam cá mais baratas que as nossas. Daí não ter havido ajudante — não que fosse uma absoluta certeza que aparecesse, como que lê o Sargaçal há uns tempos já se apercebeu.
O terreno tem agora um ar bastante abandonado. As árvores de fruto não saem do sítio. Há uma tangerineira agora com sete ou oito anos, minúscula, que tem tangerinas. As laranjeiras do Viveiro de Castromil (aqui uma limpeza passado um ano) estão ou rigorosamente na mesma, ou pior que há dois anos. Felizmente Cedros-da-califórnia e Sequóia-gigante com bom aspecto. Camélias apenas sobram três. Etc. Há uma diferença incrível entre as árvores nativas e as que fui levando. É uma diferença de desenvolvimento brutal.
Nesta fotografia da Leira Grande, as árvores da esquerda eram praticamente inexistentes há uns dois ou três anos, havia apenas um tronco onde agora é um grupo. À direita já não se vê o socalco, que já chegou a estar todo à vista e em cima o panorama é o mesmo. Podem comparar, embora com uma fotografia de Março de 2004. Aqui versão batatal em Maio de 2005.
Depois vou continuar este texto, porque já está a ficar grande.
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