Para a benignidade do clima

“Sendo Portugal um país acidentado, presta-se a uma grande parte dos seus terrenos para floresta e, além disso, favorece-as a desigual disposição das encostas e dos vales, altura e direcção das serras, a composição irregular e de diversa espessura do sólo vegetal, a estrutura das rochas, etc.
De certa altura para cima, o único modo de aproveitar a terra é revesti-la de matas, ou florestas, que, além disso, contribuem para a fecundidade do sólo e para a benignidade do clima.
O arvoredo tem o poder de atrair e condensar a humidade, que uniformisa as chuvas, opondo-se também à evaporação da lentura do sólo, pela sombra que lhe dá.
Nas montanhas arborisadas, as erosões causadas pelas torrentes desaparecem, porque as raizes dos vegetais seguram as terras; e a água, infiltrando-se, a pouco e pouco, pelas diversas camadas do sólo, alimenta os grandes depositos subterraneos, de que brotam as nascentes.
Finalmente, os detritos do arvoredo enriquecem o sólo, depositando-se nele, sucessivamente, magnifícas adubações.”

Livraria do Lavrador XLV: Arvoredo (do prefácio, sem data, circa 1930), a propósito da nefanda e incompreensível lei de limpeza das matas.
Independentemente da sua gritante falta de mérito, só a forma como foi difundida e imposta merecia a repulsa de toda a população. Levada à letra, seriam milhares de hectares de abates e desflorestação, como é óbvio com a paisagem absolutamente desordenada e uma casinha em cada encosta. Uma hecatombe ambiental pior que os incêndios. O país está entregue aos piores, o Estado através dos seus múltiplos tentáculos é hoje o principal inimigo dos cidadãos. O país precisa de mais árvores, muitas mais. E que as que existem sejam deixadas em paz e sossego, designadamente as autóctones. E que o eucalipto seja serenamente repensado, por quem ainda gosta de Portugal, não pelos lobbys e os seus moços de recados. (A grafia é a da época.)

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