Árvores à espera da tempestade
Hoje, resolvi limpar o Barroco. Fica fora do nosso terreno, mas o ano passado a água transbordava e vinha para o estradão. Falei do caso ao Sr. Cristóvão que me disse para limpar. Posteriormente telefonou-me a desdizer, porque “a lenha é do Tibúrcio”. No fim de Outubro, conheci finalmente o Sr. Tibúrcio.
Entre milhões de histórias, disse-me que podia fazer da lenha o que quisesse e que até a tinha vendido ao Sr. Cristóvão, há anos. Não é tarde nem é cedo, vou limpar o barroco hoje.
Como o Cláudio não apareceu de manhã (pelo menos telefonou…) e limpar o barroco sozinho me pareceu areia a mais, andei a fumigar as silvas com Garlon. Três horas com o aparelhómetro de 12 litros às costas. Ficaram-me a doer os ombros e o pescoço. Tudo custa para quem não está habituado. Sendo este produto uma mixórdia nociva (que usamos em desespero de causa), o ideal é limpar com a roçadeira e esperar uns 15 dias até as silvas se começarem a desenvolver (uma silva a crescer, é ver para crer…). É essencial terem bastantes folhas, pois é por aí que o produto actua, mas estando minúsculas, usa-se pouquíssimo Garlon. Uma borrifadela aqui outra ali e já está. Na verdade não é bem assim, porque há zonas com silvas por tudo o que é canto.
Andei perto do ribeiro, onde limpamos há pouco tempo. Comecei a sentir-me algo encharcado. Cada vez mais. Que anormalidade seria esta? O sulfatador não veda nada e cada vez que me inclinava para a frente para chegar a sítios mais difíceis, levava banho de Garlon. Lindo. Andei molhado até depois do almoço, um frio miserável.
Isto de andar sozinho tem um grave inconveniente. Em caso de acidente, ninguém nos acode. Na zona do ribeiro, há umas ribanceiras, que embora não muito altas, dão para partir alguma coisa. Por duas vezes bati com o traseiro no chão, entre peso nas costas e a água a correr em baixo com velocidade, o equilíbrio não era muito. Mas, pior foi passar numa zona aparentemente segura, com silvas e erva a crescer, meter o pé, o chão desaparecer e ficar enterrado até à coxa. Fosga-se. Não me conseguia levantar. Tive de tirar o sulfatador das costas e literalmente rastejar para fora do buraco. Ou algum animal, ou a água minaram e ali ficou uma bela armadilha.
Depois de tirar os quilos de terra de dentro das galochas, fui almoçar e tirar umas fotografias.
Lá apareceu o Cláudio, nas calmas. Fomos para o barroco que eu tencionava começar e acabar. Não acabamos, mas saímos de lá às 20h30, tivemos a queimar o entulho e a conversar. Frio de rachar (7°C, segundo o automóvel), mas é destas alturas que mais gosto. As pessoas na cidade já se esqueceram do que é uma noite escura. As estrelas no céu são tantas que dir-se-ia que estamos noutro planeta. Quando regressei, a primeira coisa que fiz ao sair do carro foi olhar para as estrelas e confirmo: é outro planeta.
Uma vez conheci um americano que disse que foi no Porto que viu estrelas no céu pela primeira vez. Custa-me a acreditar.
Uma resposta para“Árvores à espera da tempestade”
Acho bem a limpeza dos barrocos pois além de impedir as inundações impede também futuros incêndios.